Saturday, March 24, 2018

Crônicas Juiz-de-Foranas VI ::: A Rua Halfeld


Logo na segunda página do seu Baú de Ossos, primeiro volume de sua imensa memorialística, Pedro Nava trata da principal rua de sua cidade natal, a vida imitando a vida na distinção que ele faz entre as margens direita e esquerda.

Halfed, como sabemos, foi o avô que ele não teve: o homem de quem sua intratável avó enviuvou. Antes, por supuesto, de casar com aquele que seria o seu avô.

A Rua Halfeld desce como um rio, do morro do Imperador, e vai desaguar na Praça da Estação. Entre sua margem direita e o Alto dos Passos estão a Câmara; o Fórum; a Academia de Comércio, com seus padres; o Stella Matutina, com suas freiras; a Matriz, com suas irmandades; a Santa Casa da Misericórdia, com seus provedores; a Cadeia, com seus presos (testemunhas de Deus -- contraste das virtudes do Justo) -- toda uma estrutura social bem pensante e cafardenta que, se pudesse amordaçar a vida e suprimir o sexo, não ficaria satisfeita e trataria ainda, como na frase de Rui Barbosa, de forrar de lã o espaço e caiar a natureza de ocre. (...)

Já a margem esquerda da Rua Halfeld marcava o começo de uma cidade mais alegre, mais livre, mais despreocupada e revolucionária. (...)




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