Friday, February 16, 2018

Was kostet das Eisen? :: Crônicas Indianas VI






Quanto custa a lenha? É preciso queimar, o mais rapidamente possível, o morto. A quantidade da lenha dependerá do tamanho do corpo, ora inerte à espera do fogo e, uma vez cinza, da água que o libertará para sempre da samsara. A qualidade dependerá do poder aquisitivo da família do corpo: da mais comum e barata mangueira ao sândalo. Esquisito? Não se dá algo parecido com os caixões?

Cerca de 300 quilos de madeira. Cerca de 300 cremações diárias. Cremações que acontecem ali, no Manikarnika Ghat, há coisa de 3.000 anos.

Tudo fica a cargo dos Doms, uma subcasta dos intocáveis, que carregam nas costas e na alma o peso do opróbio de terem nascido assim. Dizem que os pais Doms choram quando lhes nasce um filho. Só eles podem tocar os corpos, supervisionar a cremação, quebrar-lhes os ossos para que esta se dê a contento. Acreditam ser a morte contagiosa e ninguém quer morrer. O parente mais próximo do morto, do sexo masculino, desempenha algumas partes do ritual, como espalhar almíscar sobre o corpo e, depois, acender a pira. As mulheres ficam de fora da área de cremação. Emotivas, podem chorar e 'atrapalhar tudo'. As mulheres também elas a carregar nas costas e na alma o opróbio de terem vindo ao mundo mulheres. Imagine as mulheres Doms. Woman is the slave to the slaves, the slave of the slaves.

Agora, para todos os efeitos, os Doms estão a cavaleiro da situação e podem aproveitar-se disso. Aproveitam-se. São acusados de extorquir o valor cobrado da madeira. Vimos o palácio de um deles à beira do Ganges. Se o pagamento não é integral, a madeira não é suficiente e algumas partes ficam por queimar. Imagine: um pé direito em meio às cinzas. Talvez melhor não imaginar Os mais pobres, sem dinheiro para a madeira, usam apenas estrume de vaca.

De longe se vê a fumacinha








Proibido tirar fotos. Estes poucos registros foram de dentro do Ganges. Proibidos anyway.

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