Saturday, February 17, 2018

Nos Quarenta Anos do Amor de Índio



Aquele louco infeliz (e que tanta infelicidade causou) Charles Manson ouvia o Álbum Branco com a certeza de que os Beatles estavam se comunicando com ele. Eu tinha certeza semelhante, e que as analogias parem por aí, quando eu ouvia "Luz e Mistério" e "O medo de amar é o medo de ser livre": Beto Guedes está se comunicando comigo, eu devo superar a timidez e conquistar a Estrela da Manhã, epíteto que inventei para a Fatinha, colega de turma que tanto bouleversou comigo no 3o ano do Ensino Médio.

Claro, trata-se de identificação tão comum em arte, quando se percebe que sentimentos às vezes confusos e difusos estão ali tão claramente expressos.

Para todos os efeitos, Amor de Índio (1978), segundo disco de Beto Guedes, foi das coisas que mais ouvi naqueles 1985, 1986.

O disco envelheceu muito bem, ao contrário do próprio Alberto de Castro Guedes: quase uma coletânea, de tantos clássicos. Além das duas citadas que ele compôs para mim: a faixa-título, "Feira Moderna", "Gabriel", "Novena", "Só Primavera". Para fechar, a indefectível música de seu pai: "Cantar". Todas maravilhosas.

Beto, então com 27 anos, para além de escrever a maioria das canções, canta, toca violão, guitarra, bandolim, baixo e bateria. E tem a little help from some friends: o Milton, o Toninho, o Wagner. Difícil que desse errado. Não deu.

Oh! meu grande bem
Só vejo pistas falsas
É sempre assim
Cada picada aberta me tem mais
Fechado em mim

És um luar
Ao mesmo tempo luz e mistério
Como encontrar
A chave desse teu riso sério?


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