Thursday, May 18, 2017

A Casa Mariana ::: Crônicas Ouro-Pretanas VI



Existem alguns mal-entendidos espalhados em sites e mesmo em livros acerca da casa que pertenceu à poeta Elizabeth Bishop em Ouro Preto, a quem ela chamou carinhosamente de Mariana, não em homenagem à linda cidade vizinha, mas em lembrança de Mariane Moore, sua amiga poeta por quem ela nutria grande admiração.

Bishop não morou por muitos anos na casa. Na verdade, morou por bem pouco tempo. Como ela comprou o imóvel em ruínas, em 1965, foram decorridos quatro anos até que a casa se tornasse minimamente habitável.

1965 mais 4 dá 1969, pois. Como sua companheira Lota se suicidou em 67, elas nunca moraram juntas lá. Como sua companheira Lota se suicidou em 67, as coisas nunca mais foram as mesmas para Elizabeth que, para além da dor da perda, tinha, a partir de então, de relacionar-se com brasileiros sem a intermediação da companheira de personalidade forte. Isso não foi nada fácil.

Bishop morou apenas um ano e meio na casa, e com uma nova companheira, muito mais jovem e também norte-americana. Um casal de mulheres estrangeiras numa pequena cidade histórica mineira. As duas não eram nada benquistas. Pequenas maldades, como destruir a campainha ou a plaquinha com o nome da casa ou arremessar para dentro de casa o lixo que elas haviam colocado para fora, não eram raras. Uma grande maldade, como arremessar uma pedra em sua jovem companheira, também rolou.

Depois deste ano e meio, Bishop mudou-se de volta para os Estados Unidos, voltando a Ouro Preto apenas nas férias. Até 1974. Desta data até sua morte, em 1979, nunca mais. Tentou vender Mariana sem sucesso.

É uma história triste. Mais ainda se lembrarmos o seu grande entusiasmo inicial presente nas cartas. A casa tinha "o telhado mais lindo da cidade", "como uma lagosta de bruços". A casa, enfim, era "a mais linda do mundo".

Sua localização, no caminho para a cidade de Mariana, é metáfora da relação de Liz para com a cidade: mais de observação do que de efetiva participação. Isso não só em Ouro Preto, mas no Brasil, nos EUA, no mundo.

Quando fomos estava fechada. Eu gostava de ao menos passear pelo jardim, ouvir o córrego que ela ouviu. Mas gostei imenso de visitá-la por fora, eu que tantas vezes por ela passei quando por ali fiquei hospedado há exatos trinta anos.




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