Tuesday, August 23, 2016

Crônicas Marroquinas VII ::: E acaso existirão os marroquinos?

Fez


Antes da viagem, Dorling Kindersley já me advertira que eu deveria sempre pedir permissão a um marroquino antes de tirar sua foto. Os marroquinos, continuou, têm uma suspeita arraigada de qualquer tipo de imagem. Faz sentido, pensei, se lembrarmos (será possível não fazê-lo?) que o islamismo permeia o seu cotidiano e daí, da suspeita e interdição de representar a imagem de qualquer ser vivo (Deus, humanos, bichos e plantas, elenco em ordem de importância), nasceram a extraordinária caligrafia e o extraordinário zelig.

Dorling sabe que eu gosto de fotografar gente (ainda mais que bichos e plantas e Deus) e, face o meu desânimo, acrescentou que eu não estava proibido de direcionar minhas lentes para um marroquino, mas que convinha antes pedir permissão e, depois, deixar alguns dirhams em troca. Nós tendemos a ver isso como exploração, coisa de mercenário. Lévi-Strauss, quando viveu situação semelhante entre os bororos, viu orgulho, no sentido bonito da palavra.

Em Marrakesh comprovei o quanto Dorling e Lévi-Strauss estavam corretos. Era pegar o câmera ou mesmo o Nokinha para que olhos e mãos se estendessem sobre nós. Haja orgulho. Haja dirhams. Claro que se você compra o produto, que pode ser um par de sapatos ou a música de rua, o pagamento já está ali, mas muitas vezes rola incompatibilidade entre o que se dá e o que se esperava receber, o que pode gerar estresse. 

Gostei de tirar fotos assim, como as da incontornável Praça Jemaa el-Fnaa, mas mil vezes as que não se encaixam nesse ajuste de compra e venda.Tudo fica mais fácil quando o sujeito está de costas, ou trata-se de um grupo. Às vezes é preciso malícia e fingir que o registro é da companheira. E com crianças nem é preciso treta. Aliás, fora de Marrakesh tudo foi mais fácil.

(PS: Um amigo enfrentou a situação assim)

A praça



Exemplo de compra, que aqui nem foi concretizada





Em movimento


Treta


Treta

Mais 'compras'


Movimento
Mais fácil. E doce



Minhas diletas







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