Friday, February 19, 2016

I Can See for Miles :::: The Who

Em Monterrey


Na época azul bebê do Orkut havia uma comunidade chamada "The Who é melhor do que Beatles", onde fãs ardorosos de Townshend & Co. defendiam a inquestionável superioridade da banda, brandindo que os Besouros lograram mais sucesso, sim, mas isso deveria ser colocado na conta de fatores como sorte e, claro, a idiotice pervasiva das pessoas.

De vez em quando apareciam fãs ardorosos dos Beatles só para provocar, algo assim como um torcedor do Bonsucesso atravessar a torcida da Olaria vestindo a camisa do seu time numa tarde quente da Rua Bariri.

Nunca entendi esse fla x flu infantil, mesmo quando se trata de Beatles X Stones. Mas que as bandas competiam entre elas, em maior ou menor grau, isso é inegável, amiúde instigadas por essa bobagem de charts, top 10, top 20 das paradas de sucesso, como se fazer música fizesse de você um atleta que tem que necessariamente suplantar adversários.

Lembro de um episódio envolvendo "Helter Skelter" e "I Can See for Miles". Eu pensava que Pete e Paul haviam feito mesmo uma aposta em um pub sobre quem seria capaz de compor (escrever a letra, produzir e tocar) a música mais "suja", pesada, ever.

Não foi bem assim. Paul, ao ler uma resenha do The Who Sell Out em que descrevia "I Can See for Miles" como a música mais pesada jamais feita, encrencou com aquilo e, competitivo como sempre foi, decidiu simplesmente escrever coisa ainda mais pesada. Daí, "Helter Skelter". Que, convenhamos, faz a música do The Who soar como single da Galinha Pintadinha.

Pelo menos sempre pensei assim até a noite de ontem. "I Can See for Miles" (que, competições idiotas à parte, é ótima) deixa "Helter Skelter" no chinelo no quesito bateria. "Ah, mas aí é claro", dirão, mas não se trata apenas disso. É ótimo exemplo de como o The Who trouxe a bateria para a frente da sonoridade da banda, como jamais havia sido feito. Fizeram o mesmo com o baixo, by the way. E só o fizeram porque tinham Keith e John para isso.

Neste vídeo aqui, de 1969, a bateria está literalmente à frente da banda! Se por um lado isso é interessantíssimo, por outro é redundante.

Ver o baterista assim à frente....olha, só com orquestra sinfônica tocando o Bolero, e digo que é ótima experiência visual.

PS necessário para mostrar o quão imparcial eu sou quando o papo é Beatles X The Who: os Beatles já haviam dado à bateria uma importância que ela jamais tivera, colocando-a em nível superior nas apresentações. Mas isso em termos puramente visuais, era algo que funcionava nos shows, não na sonoridade da banda.

Claro que uma coisa é ter um Richard Starkey nas baquetas, outra é ter o Lunático.



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