Wednesday, February 11, 2015

Crônicas Turcas II :: Museu da Inocência



Há muitos anos, conhecendo Amsterdam, li que se o viajante tivesse tempo para uma única visita na cidade, esta deveria ser à Casa-Museu de Anne Frank. Lembro-me de que gostei desse exagero, impressionou-me, a ponto de dar vontade de parafasear aqui : se o viajante tiver um único dia para Istambul, faça a Mesquita Azul, a Hagia Sophia, a Süleymaniye e a Choria. Vá ao Grande Bazar, ao Mercado das Especiarias e ao Topkapi. Suba a Torre de Galata, atravesse o Bósforo para conhecer a parte asiatica desta que é a única cidade do mundo dividida em dois continentes. Almoce e jante nos infinitos e maravilhosos e baratos restaurantes da cidade. Beba o vinho local e fume o seu narguilé. Mas não deixe de conhecer o Museu da Inocência.

O Museu da Inocência (em turco Masumiyet Müzesi) não é muito conhecido, a ponto de mesmo moradores da área de Çukurcuma terem alguma dificuldade em ajudar os viajantes. É um museu literário, estritamente literário, que narra a malograda estória de amor de Kemal e Füsun. Ele foi montado por Orhan Pamuk enquanto ele escrevia o romance homônimo. Ideia linda, genial, já paga a viagem.

Dividido em 83 seções, uma para cada capítulo do romance, acaba por traçar um painel da Istambul classe média-alta das últimas décadas do século XX. Mas o valor, importante frisar, reside mais em sua 'função poética' que em seu valor referencial. Afinal, Kemal e Füsun são seres de papel.

Masumiyet Müzesi sabe disso. Logo à entrada, há um manifesto em prol de um novo conceito de museu. Louvre, National Gallery, Uffizi, Topkapi e Hermitage são lembrados, mas seria chegada a hora de um novo museu, mais íntimo, mais casa, mais humanizado. Estórias em vez da História. Ano passado foi eleito o museu do ano da Europa.

Se você trouxer uma cópia do romance, entra de graça. Se não trouxer, tem a chance de comprar na lojinha, garantindo a gratuidade da próxima visita.

Pode-se ler aqui uma entrevista com Pamuk acerca do museu.

Pampi à frente das 4213 bitucas de cigarros fumadas por Füsun










Diário de viagem, nosso museu da inocência

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