Sunday, August 31, 2014

Voltando ao Morro do Pinto, parte II



Mais fotos da subida ao Pinto. As fotos dos grafites estão aqui.












Voltando a Subir no Pinto



Subi no Morro do Pinto neste post aqui e a ele retornei já duas vezes, a segunda hoje.

As novidades do Bar do Carlinhos são as seguintes: o Taffarel andava muito brigão, por isso foi separado do Dunga. A cozinheira Rosane Pifani prepara um yakisoba de frutos do mar, mas tem que encomendar antes. Sem encomenda, tem pastel de carne e empada de camarão. A fachada agora é azul, de um azul tal que prometo que o próximo aniverário meu será lá. A águia continua no mesmo lugar.

Sendo domingo, a Igreja de Nossa Senhora do Montserrat abre para a missa das 8:30.

João do Rio viu muita feitiçaria no Morro do Pinto. Nava viu nele o Castelo de São Jorge.

Fecho com ambos.












Morro do Pinto ::: Grafites



E quase me senti em Olinda. Se no Pinto talvez falte o tom político de lá, sobejam lirismo, humor e fantasia.

E a declaração de amor ao Morro do Pinto é onipresente, já desde o sopé.









As Tamarindeiras do Grajaú, parte 1



São 207 as tamarindeiras, tamarineiras, da Engenheiro Richard e da Júlio Furtado, Grajaú. Protegidas por decreto de 2006, são 'imunes ao corte'. Bem, o Maracanã, a Igreja de São Pedro dos Clérigos e outros bens por aí também eram 'imunes ao corte' e foram destombados quando assim foi conveniente, de modo que convém sempre vigiar as 207 tamarineiras, tamarindeiras, e também os não poucos flamboyants, amendoeiras e figueiras.

A primeira árvore a ser tombada na cidade foi uma figueira-brava na Rua Faro. Curioso que o próprio Nava tenha ironizado o fato quando tomou a direção do Patrimônio. Tem é que proteger as árvores urbanas mesmo, que a sanha de destruição é já sobejamente conhecida e parece que só se lembra disso quando os termômetros acusam 43 graus na Zona Norte.

O poema eterno da nossa literatura 'sobre' tamarindeiras é o do Augusto dos Anjos. Há não muito cito-o em soneto. Não há paródia, ou há, mas o respeito é profundo.

DEBAIXO DO TAMARINDO
Augusto dos Anjos

No tempo de meu Pai, sob estes galhos,
Como uma vela fúnebre de cera,
Chorei bilhões de vezes com a canseira
De inexorabilíssimos trabalhos!

Hoje, esta árvore de amplos agasalhos
Guarda, como uma caixa derradeira,
O passado da flora brasileira
E a paleontologia dos Carvalhos!

Quando pararem todos os relógios
De minha vida, e a voz dos necrológios
Gritar nos noticiários que eu morri,

Voltando à pátria da homogeneidade,
Abraçada com a própria Eternidade,
A minha sombra há de ficar aqui!"

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Grajaú, 28 de setembro de 2013


a tarde sempre arranha alguma coisa
e se é domingo então aí phodeu
me rendo às flechas da melancolia
vou à caça daquilo que foi meu

nas velhas ruas do meu bairro eterno
caço tamarindeiras pelo chão
como é próprio bem próprio dos von sydows
agarrar-se feroz aos tempos idos

como os velhos poetas medievais
aproveitando este momento augusto
eu me pergunto entre dor e susto

enquanto me lambuzo de caqui ::
então mesmo que eu more na Mongólia
a minha sombra há-de ficar aqui?

****()())(


Neste vídeo aqui, a augusta tamarindeira do Augusto.

Friday, August 29, 2014

Nossa Senhora da Cabeça e as Carmelitas Descalças



A capela de Nossa Senhora da Cabeça está situada em terreno da Casa Maternal Melo Matos, onde hoje funciona escola que já foi internato. Quem cuida dela são as Irmãs Carmelitas Descalças.

Não tive a mesma sorte do soldado Juan, tive maior, pois apareceu-me uma Camilita Descalça. E confesso que não tenho taras S&M mas aprecio um boa cerva.

A visão da Camilita descalça



Capela de Nossa Senhora da Cabeça





Era no tempo das Cruzadas. Um soldado espanhol perdeu o braço nos combates e, não podendo mais matar mouros, fez-se pastor na Sierra Morena. Um dia Nossa Senhora apareceu-lhe no Pico da Cabeça e arrumou-lhe braço novo, cousa prodigiosa que, até onde sei, nem a Blimunda foi capaz de fazer com o Baltasar Sete-Sóis, embora esta fizesse com este outras coisas que o pastorzinho nem sonharia fazer com aquela. Enfim.

Assim nasceu a devoção, pequena por aqui, à Nossa Senhora da Cabeça, a quem o povo, igualmente prodigioso, logo tratou de pôr nas mãos uma cabeça, pedindo proteção contras as cefaleias e enxaquecas. Não raro chamam-na das Cabeças. No Rio há uma devoção grande na Igreja do Carmo e em outra do centro (Rosário? Boa Morte?), com missas muito concorridas às quartas.

Mas eu gosto mesmo é da capelinha escondida no alto da Rua Faro, de onde se vê o Corcovado e um troço da Floresta da Tijuca. É a única capela alpendrada da urbe e, pasmem, data da primeira década de 1600. Um tesouro.




Wednesday, August 27, 2014

Uma Crônica de Bandeira sobre os Prodigiosamente Sinceros Pintores de Botequim

Delicías's Bar :: Grajaú


Maravilhado descubro crônica do Bandeira de novembro  de 1941 sobre pinturas em botequins cariocas. O texto "Pinturas no Café" foi recolhido na antologia Andorinha, Andorinha, que apresenta uma faceta pouco conhecida do poeta, o Bandeira todo prosa.

A crônica é formidável menos por mostrar que já havia interesse no assunto, mas que era interesse de gente como Cícero Dias, Murilo Mendes, Vinícius de Moraes e, claro, o próprio Manuel.

Reproduzo aqui a primeira metade.

"No penúltimo número da revista Diretrizes vem uma interessantíssima reportagem de Carlos Cavalcanti sobre esses ingênuos exemplares de arte popular que são as pinturas murais dos cafés e pequenos restaurantes da cidade. É a primeira vez, creio, que um crítico de arte fala desses trabalhos. No entanto, há muito tempo vinham eles despertando curiosidades de alguns pintores e poetas. Cícero Dias, Murilo Mendes, Vinícius de Moraes e tantos outros, são grandes admiradores dessa pintura incorreta, mas prodigiosamente sincera. Murilo Mendes possui mesmo uma erudição surpreendente no assunto e sabe, por exemplo, que em tal café do Catete há um São Jorge fabuloso, e em tal botequim da Saúde uma sereia copacabaníssima. Nenhum de nós, porém, soube nunca o nome desses modestos muralistas, só agora revelados por Carlos Cavalcanti - Justino Miguéis, natural do Porto, chegado aqui em 1912, ex-aluno da nossa Escola de Belas-Artes, Bravo Filho, Albino Beija-Flor... Miguéis contou a Carlos Cavalcanti que foi o primeiro professor de Portinari, menino recém-chegado de Brodóvsqui.
'Mas o que Carlos Cavalcanti parece que não sabe, senão teria citado, é que entre esses pintores de cafés do povo se deve citar um dos nossos artistas mais finos, mais cultos, mais viajados -- Guignard. O "Café e Restaurante Progresso", pertencente ao Sr. Francisco Rocha, estabelecido à Rua Barata Ribeiro 218, tem as suas paredes enriquecidas com três pinturas à têmpera do conhecido artista. E uma delas está assinada pelo autor com todas as letras do seu nome. Vale a pena ir ao cafezinho do Inhangá especialmente para ver os trabalhos do Guignard."

A crônica prossegue em mais quatro parágrafos, nos quais o poeta do porquinho-da-índia descreve as pinturas de Guignard, relata sua dificulade em extrair informações do dono do bar (arrá!, não mudaram em nada) e conclui que as pinturas não foram encomendadas, mas oferecidas (!) pelo pintor.

Para além dos aspectos já citados, a crônica é notável também por apresentar nomes de alguns pintores (o nosso Bravo!). E vamos atrás dessa revista, já que os golfinhos, o São Sebastião e os girassóis de Guignard já foram devidamente soterrados.

Para ilustrar este post, não o Nilton Bravo de quem já tanto falei, mas uma pintura em um boteco no Grajaú com seu algo de Goya. E é provável que seja o mesmo pintor de um botequim no Estácio.

Café e Bar S. Judas Tadeu :: Estácio

Tuesday, August 26, 2014

Bar da Portuguesa



A primeira vez em que estive no Bar da Portuguesa foi num sábado, cheguei com o irmão felizes pouco antes das 6 e pedimos a cerveja de lei. Poucos minutos depois pedíamos a segunda para ouvir da garçonete: "Tá fechando". Pasmo total. Um boteco que fecha às 6 num sábado?

Sim, o Purtuguesa fecha. E pensar que aqui relatei surpresa por conta do Brasil fechar à meia-noite.

Hoje supero o desgosto com gosto :: o bar é daqueles realmente familiares, tem seus horários e pronto, não curva o espinhaço para atender à torcida. Hoje volto em horário apropriado, a tempo de traçar o cremoso pastel de camarão e a generosa fritada do Hélio.

Sendo da purtuguesa, é templo da vascainidade, e isso faz falta, em tempos que assistem à despedida do Quinta de São Cristóvão (aqui). Por política de boa vizinhança, inclui-se no "botequim de todos os times", de que escrevi aqui. A camisa do Cruzeiro vestiu-a Nelinho, que morou ali em frente e até hoje frequenta. Mas a presença maior, claro, é da cruz de malta e o Paulinho ostenta o navegador bacalhau na batata.

Pixinguinha era habitué, o que já justificaria o tombamento. Aqui ele conheceu Baden Powell, num sábado antes das seis. Da mais recente em que lá estive, estava acampada a biblioteca voluntária que doa livros (post em breve). E passou por nós a caravana da ACervA Carioca. Fui ter com eles e ganhei um pedaço de uma farmhouse ale lançada naquele mesmo dia.

Então a gente vai no botequim do subúrbio na rua João Silva cheia de azulejos (ver aqui) e come fritada e toma cerveja. Como se não bastara, volta com Rasero do Rebolledo e um João Antônio e ainda toma uma farmhouse ale.

Depois dizem que não há Deus.









 

Sunday, August 24, 2014

Rua João Silva, Ramos ::: Paineis azulejares



Não se chama Marechal Trompowsky, Comendador Rheingantz ou Viscondessa de Pirassununga. Diga João Silva, nome e sobrenome mais comuns da língua, e ela vem. E vamos a ela. Uns dizem que fica em Ramos, outros em Olaria. É área fronteiriça, mas como nela situa-se o Grêmio Recreativo de Ramos, bem, estamos em Ramos.

Para além dos pequenos paineis de santos de quatro azulejos, outros paineis retangulares maiores, religiosos e seculares.