Saturday, January 18, 2014

Dante no Zoo

 
 
 
Menino intransitivo, de intransitivas ações. A primeira visita do Dante ao zoo foi. A próxima visita, que não esperará cinco anos, será, espero, um pouco mais (ver aqui). Mas a coisa tampouco cai em evolucionismos fáceis. Mas como a próxima haverá, esperamos seja um pouco mais.

Dante não se fixou muito em nenhum bicho. Como na entrada alugamos um carrinho tipo velocípede, fixou-se mesmo no carrinho e neste que o empurrava, com ocasionais diatribes se um ou outro falhavam.

Vimos os elefantes, distantes, elegantes, altissonantes. Distantes até darmos as costas, que logo veio um ter conosco de perto. Na foto eu olho para a máquina, Dante e Elefante se entreolham.

Urso, macacos, girafas, felinos mortificados pelo calor que desde o século XIX cresta a monarquia de São Cristóvão.

Dante gostou mesmo foi do espaço dos pinguins. Não tanto pelos exímios nadadores felizes, mas pela água que jorrava aos borbotões para a piscina. Enquanto todos olhávamos para os pinguins da orquestra, o menino só tinha olhos para a água que ama.

Aliás (e não falo das elefoas), parrte dos meus olhlos fickou por lá :: Dante atitou mneus ócullos na jaula dos gnus.



Segue a Orquestra dos Pinguins, em momento lindo.
 
 

Friday, January 17, 2014

Mais Paineis de Azulejos ::: As Vilas::: Irmãos Igrejas

Flanar pela Vila continua rendendo boas surpresas azulejares, como os excepcionais paineis encontrados hoje.

Ambos revelam a nítida proveniência dos donos das casas: dizer Portugal é pouco (e, à época, quase que óbvio), há que se especificar a vila / cidade da terrinha. No grande painel horizontal (de 98 azulejos) encaixado em moldura feita para acolhê-lo, descobrimos fonte da Vila da Póvoa de Lanhoso. No painel quadrado (100 azulejos), capela de Pico de Regalados. A reparar que ambos os paineis ostentam o brasão da cidade, e na de Picos há mesmo uma cruz de malta. Ambas vilas minhotas.
Os dois paineis são assinados, mas pude identificar apenas no retangular a assinatura de Antônio Felix Igrejas.
Dos irmãos Antônio e Manoel Felix Igrejas, também eles purtugueses, escreverei post em breve. (No post anterior sobre paineis de Vila Isabel, alguns são também ora d'um, ora d'outro)


Wednesday, January 08, 2014

O Púcaro Búlgaro ou EXPEDIÇÃO À BULGÁRIA

 
 
Por razões que logo (j'espère!) serão conhecidas dos leitores do blog, tive ganas de reler O Púcaro Búlgaro, novela de Campos de Carvalho lançada pela Editora Civilização Brasileira em 1964. Tenho a primeira edição, bem como Vaca de Nariz Sutil (1961) e A Chuva Imóvel (1963), todos pela Civilização, sendo que os dois últimos na "Coleção Vera Cruz". O Púcaro é, mui apropriadamente, da coleção "O Homem que ri". Todos naquelas lindas (e frágeis!) capas não-plastificadas que amo. Só O Púcaro tem ilustrações do Poty (aqui).

Com seu humor pícaro, escrachado e absurdo (sim, no sentido literário, refiro-me aqui a um Alfred Jarry, a um Ionesco), O Púcaro Búlgaro ocupa (ou deveria) lugar de destaque na prosa satírica brasileira, a começar pela rima toante esdrúxula do título.

Após a "Explicação Necessária", temos "Os Prolegômenos", a que seguem uma "Explicação Desnecessária", um "In Memoriam" e uma página-título ("Livro de Horas e Desoras ou Diário da Famosa Expedição 'Tohu-Bohu' ao Fabuloso Reino da Bulgária...").

Depois da impagável sessão de terapaia, terminada com a pergunta do psicoterapeuta "O senhor já foi à Bulgária?", o narrador, em 17 de novembro, põe anúncio no jornal: EXPEDIÇÃO À BULGÁRIA. PROCURAM-SE VOLUNTÁRIOS.

"Poderia ter acrescentado: que não sejam necessariamente loucos. Mas como essa ressalva poderia afugentar os mais capazes e abnegados, deixei a cargo de cada um o juízo sobre o seu próprio juízo. Mesmo porque os loucos nunca se julgam loucos e acabariam vindo da mesma forma -- eles ou ninguém mais."
 
Poty
 
PS: Falei em 'humor pícaro'. Ou será humor púcaro? O Pícaro Bígamo, e estamos já em terras de Campos de Carvalho.

O Post 1000


 
 
Não é este, mas o anterior. Fiz as contas, fiquei de tocaia e, como haveria de ser, ao escrevê-lo me distraí.

Como tudo começou com Goa, justo que seja ela lembrada aqui, se não aquele meu espaço mítico (ao qual não digo que retornarei porque não cheguei a sair de lá), um restaurante assim chamado em Pinheiros.

A comida não é propriamente indiana, mas vegê. A Eisenbahn vem bem gelada.

O blog, acho, vai bem.

Comecei com ele antes do facebook. Quando entrei neste, pensei Agora que ninguém vai ler o blog mesmo. Vislumbrei para ele o mesmo destino do Orkut. Mas a ideia de usar o face como trampolim salvou-o. Mas que o salvou, pois passei a ter muito mais leitor. Se as estatísticas do blogspot estão certas, eu teria leitores nos EUA, Malásia, Rússia, Alemanha e China, para só citar os principais. Não acredito nisso.
 
Acho bom que quando escrevo, leem. Se passo período sem publicar, as visualizações minguam, mas jamais cessam de todo. Quando publico frequentemente, o número de visualizações sempre passa da centena. Em 23 de novembro foram 347 visualizações. Para um blog centrado em poesia, literatura, música impopular, o próprio filho, patrimônio histórico e botequins, isso na terra do tchan, convenhamos que não está mal.

Não tenho muitos seguidores e tampouco muitos comentários. Creio que isso se dá pela simples razão de não verem mais muitos motivos para segui-lo, de vez que o facebook já faz as notificações. Quanto aos comentários, prefere-se o próprio face. O ruim é que assim o comentário não fica "guardado" para sempre junto do texto, mas não se pode ter tudo.

Através do blog conheci pessoas. E mantive outras. Para quem cai no raciocínio fácil de que as tecnologias modernas enfraquecem as relações humanas, um big plé.

É isso.





o espelho

Monday, January 06, 2014

Igreja da Ilhabela

Numa estimativa otimista, acredito que ninguém mesmo pegue a balsa da Ilhabela em busca de patrimônio histórico. Pior pra eles. Como a Vila Bela da Sereníssima Princesa Nossa Senhora ou, melhor ainda, Ilha de Maembipe, tem uma história riquíssima, não faltam casinhas, solares, engenhos e, claro, as onipresentes igrejas.

No coração da Vila, a Igreja de Nossa Senhora d'Ajuda e Bom Sucesso.








Paineis de Azulejos ::: Vila Izabel

Com o cuidado de não colocar aqui azulejos de boteco, que issos serão considerações à parte.

Atopar com um painel deste hoje é alegria das grandes. E raras. Grande por ser rara, não necessariamente o inverso.

Os dois primeiros são de casinha térrea, recebem no quintal o visitante que chega. Antigamente era assim.

O terceiro é no topo de casa grande.

O quarto, insólito por ter temática carioca e não propriamente escapista (ou escapista para o morador da Zona Norte?), é de grande casa térrea.

O quinto é mais comum por ser de temática religiosa. Mas foge à regra pelas dimensões e por não retratar santo ou nossa senhora específica.

O sexto está hoje numa loja de móveis antigos, em antigo açougue. Notável pelas pastilhas e cobogós. Eu morava aqui fácil. Retrata idilicamente inocentes animaizinhos que seriam comprados já devidamente abatidos e esquartejados, prontos para o consumo.







Sunday, January 05, 2014

Bowie, Bertolucci, Major Tom



Outro dia achei carta de minha avó para mim, na época em que vivi em Chicago. Estava dentro de envelope de carta da tia, ou seja, a carta da vó era meio que -- delicioso -- apêndice. Delicioso em suas mal traçadas linhas, sua eterna ingenuidade, sua absoluta doçura. Ela dizia que gostava de assistir a filmes da América do Norte (assim dizia) para que pudesse se sentir um pouco mais próxima de mim.

Sigh.

Pensando com ela, minha doce vampira (ver aqui), gosto de assistir a filmes italianos nem que seja para me sentir mais perto da Itália, ouvir o que e como dizem, ver onde moram no bel paese, mesmo e principalmente quando o filme (ainda bem), não se curva à obrigação da cor local.

Assim com Io e Te, o mais recente do Bertolucci. Só sabemos que estão na Sicília por esparsas menções a Catania e ao notório ciúme dos sicilianos, mesmo que, aqui, oriundo de um fedelho de 14 anos.

Já gosto só por estar ali, ouvindo o fedelho exclamar surpreso "Madonna!" e sua irmã complicada, "Maria!". A namorada ao lado se contorce de sorrir.

Então já valeu por estar ali. O filme é bom sem ser ótimo, mais do que esperei. A trilha é ótima, sem ser apenas boa :: The Cure logo no começo, Muse, Arcade Fire, RHCP, Mogol.

Mas o que roubou a cena mesmo foi o Bowie no final. A imagem paralisa nos olhos desfocados do menino que, depois de se entocar, renasce ao descobrir o outro, o amor, um pouco de si mesmo. Afinal, descobrir o outro e o amor é descobrir a si mesmo.
 
 

Friday, January 03, 2014

Era Ilhabela e Chovia



A chuva de janeiro nos ilhava
encharcava as quilhas do coração
a chuva de janeiro nos olhava
como se olham ilhas da desrazão
a chuva de Ilhabela não é só
resposta dessas coisas naturais
que o selo imprimem à eternidade
como ao banhista o mar tatua os sais
a chuva de Ilhabela nos teus olhos
se cristaliza com o roçar do vento
a chuva desta tarde faz-se em nós
e tudo que é janeiro húmus terra
encontra em nossa peles seu assento
acento de gozo guarida e voz.