Monday, December 29, 2014

Limerique para Páti



Escrevi sobre a Dani aqui, a irmã que usurpou minha caçulidade. Mais que isso, tornou-se chef de cozinha e, mais recente, mãe da Patrícia.

No Natal, enquanto os grandes comem bacalhau e brincam com embrulhos, Páti dorme de bom dormir, sonhando com passeios que fará vestindo saia godê. Se acorda, mostra a língua e se os bichinhos se movimentam mexe excitada as pernocas de wilza-carla.

Sempre pretexto para um limerique, que parem de acusar que só os faço pro Dante.

"Mas vejam só que coisa linda!", disse a
Gorda rolinha ao oficial de polícia.
Mas olha lá, jabuti,
Eu deixo bem claro aqui
Que este limerique é só pra Patrícia.




Sunday, December 28, 2014

Tangerinas :: Pequena Resenha ou Quadrilha Caucasiana



Ahmed odeia Niko que odeia os abecásios que desconfiam de Ivo que não odeia ninguém.

Ahmed é um mercenário checheno, Niko ex-ator georgiano é hoje guerrilheiro, os abecazes estão empenhados em uma limpeza étnica, o que implica genocídio de georgianos, e Ivo e Margus são estonianos que só desejam colher suas tangerinas em paz. Que assim entram na história.

Em 1992, talvez não fosse muito sensato reunir sob o mesmo telhado, sentar à mesma mesa, um mercenário checheno pago por abecásios e um georgiano, principalmente se este acabou de matar um companheiro de infância daquele e, aquele, dois colegas de combate deste. Pela confusão das anáforas, perceba-se o quiproquó étnico. E acomodar os dois sob o mesmo teto é precisamente o que Ivo faz.

Libelo pacifista, Tangerinas (2013) lembra um pouco o francês Feliz Natal (2005) e a obra-prima macedônia Antes da Chuva (94). Pelo argumento, corre o risco de escorregar para a pieguice. Ao menos no final, vá lá! Mas nem. É filme lindo.

A primeira produção geórgica-estoniana da história.

Que a primeira produção geórgica-abecaz não esteja longe. Eu ficaria feliz. Ivo também.


Saturday, December 27, 2014

O nome da palavra era sim




When he climbed the ladder, he felt a little foolish, but he looked through the spyglass and saw the word "YES"


o nome da palavra era coragem
abrir portas e janelas em par
ao que sempre vedado fora abrir
o nome da palavra era sim
ao teu convite sim à tua pergunta
sim murmurado lentamente em cada
toque e por cada gesto cotidiano
ir ao mercado comprar pão e leite
roçar os ombros ao lavar a louça
como se ao lado de um desconhecido
tivesse eu viajado sempre agora
inauguro na serrania dos teus
olhos algo que ouso chamar de mim
quando ouço teus sorrisos no escuro

Oscarina, de Marques Rebelo ::: A Vida que Poderia Ter Sido



Li a novela "Oscarina" que dá nome ao primeiro livro de contos de Marques Rebelo (1931) tão logo o comprei, e nisto lá se vão vinte anos. Não gostei (relembro hoje, lendo as notas rabiscadas a lapis nas margens) e daí não prossegui a leitura. 

Retomei o livro ontem, deixando a novela inicial para o final. A estratégia deu certo ou em 93 eu não estava pronto para Oscarina ou Oscarina não estava pronta para mim. O livro é uma pequena joia, em seus pequenos paineis da pequena burguesia da Zona Norte carioca. Pequenas existências estagnadas, sonhando preguiçosamente nas pensões futuros que jamais se realizarão. Daí o uso frequente do futuro do pretérito ::

Agora, porém, a clareza da sua vida futura foi tão imprevista que não lhe permitiu traçar logo, com aquele imponderável bom-senso de que se sentia senhor, a linha reta do seu proceder. E qualquer resolução sua, funda, formal, decisiva, poderia passar aos olhos dos que o cercavam como a mais absurda das coisas. Ele bem sabia que a boa Dona Lola jamais acreditaria que aquele magro hóspede, funcionário de fraca categoria no Banco Germânico, pudesse ter tragédias interiores, necessidades dolorosas de cérebro e coração, rasgos estranhos de libertação. Tais coisas eram naquela pensão familiar do Andaraí, cheia de cadeiras de vime e reposteiros de chitão, apanagário exclusivo do Dr. Fontes, viúvo (...) ("Espelho")

Aí o futuro do pretérito para dar ação à inação, daquelas vidas que poderiam ter sido mas não. No trecho abaixo, do conto "Em Maio", o uso do futuro do presente serve apenas para realçar as rotinas previsíveis. E mesmo assim, note-se a passagem deste para, novamente, o futuro do pretérito :::

Você vai agora para a matinê, que é o seu vício de domingo, assistir à mesma fita que empolgou o militar e que o colegial aguentou indiferente. Invejará a estrela porque é bela e você não é, calculará a riqueza das toaletes que jamais você vestirá e como não tem um rapaz apaixonado, para sussurrar junto à sua boca as frases embriagadoras dos romances, sentirá tristeza onde todos se divertem, só tendo um gesto bom ao comprar mariola para o maninho, que está aborrecido porque não compreende absolutamente aquelas cenas longuíssimas de beijos e abraços. A inquietude está com você, além da incerteza do que será amanhã.. E poderia assistir à mesma fita, tranquila, pelo meu braço. Quando começasse a inveja, eu saberia adivinhá-la e haveria de dizer ao ouvido Você é mais linda! Sorriria, balançando a cabeça num consentimento mole: São teus olhos... - Você é a única estrela no céu negro da minha existência - continuaria. Que lindo pensamento! Volveria para mim os enormes olhos glaucos, onde brotava a mais muda das admirações. E hoje é com o irmãozinho bochechudo que vai à matinê. Vai. Eu fico.

E assim ficam. Perdidos em devaneios, um modo de escapar à sensaboria da realidade. Um outro jeito é a morte. No único conto ambientado na Zona Sul, o ótimo "Onofre, o terrível ou a sede de justiça", o mata-mosquito sonha encabeçar formidáveis revoluções sociais ao deixar de exterminar as larvas de mosquito que então matariam os ricos de febre-amarela, quando ele mesmo termina fulminado por ela.

Se um paralelo com Dubliners seria forçar a mão, comparação válida aqui será com Winesburg, Ohio, de Sherwood Anderson, e seus grotescos : "The grotesques were not all horrible. Some were amusing, some almost beautiful".

Legenda da foto : Encantado, onde Seu Santos, pai de Jorge / Gilabert, planeja comprar um terreno a prestações, para mais tarde construir uma casinha, pequena, mas confortável. Bangalô é que não. Queria uma casa decente.




Tuesday, December 23, 2014

O Pequeno Passeia como Prinspe



mas de resto a manhã foi tão difícil
infinita pois que os minutos pin-
gavam morosamente sobre a tela
do celular jogado pela mesa
angústias tomam corpo do pequeno
dominado por suas ansiedades
tempo e espaço e refúgios destruídos
a fuga pra pracinha (e nem havia
sombra de Herodes pelas vãs calçadas)
em nada ajuda a incomunica-
bilidade de pai e filho a todos
perturba. mas no caminho de volta
no tapete de folhas amarelas
o pequeno passeia como prinspe

Sunday, December 21, 2014

Vivir es Fácil con los Ojos Cerrados :: Resenha



Estampar no álbum as letras das canções é prova quase inequívoca de autoconfiança do artista. Os Beatles só foram fazer isso em 1967, com o Sargent Peppers. Concordo que não havia muito o que ser estampado em Please please me ou With the Beatles, mas já desde o For Sale ("Although I laugh and I act like a clown / Beneath this mask I am wearing a frown"), Rubber Soul ("Doesn't have a point of view / Knows not where he's going to / Isn't he a bit like you and me?") e Revolver (todas?), isso já poderia ter sido feito. Mas por que, então, só em 67?

Quem quiser descobrir deve assistir ao espanhol Vivir es Fácil (Con los Ojos Cerrados), de David Trueba, com o ótimo Javier Cámara. A história, claro, do professor de inglês solteirão de meia-idade que quer conhecer o John Lennon quando este está filmando How I won the war em Almería em 1966, com o pretexto de pedir-lhe que preencha as lacunas de algumas músicas que ele toca para os alunos (ufa!, que período longo!) é tão fantasiosa quanto improvável quanto bonita daquelas.

O pano de fundo é a Espanha franquista, estagnada, amedrontada, sem futuro. A violência do sistema transborda para as relações cotidianas -- o pai policial que estapeia o filho adolescente na mesa do almoço, o padre que espanca um pequeno estudante (Igreja e franquismo se beijavam na boca), o valentão da cidadezinha sem polícia -- e é por isso que o professor Antonio quer ao menos ensinar seus alunos a gritar. HEEEEELLP!

Se o professor de inglês consegue encontrar-se com John? Não conto. Conto que, para além dele, temos ainda o menino que parece um beatle mas prefere os Stones e Kinks (o que quase lhe custou a carona), e a menina, grávida, perdida. She's leaving home. Or looking for one. E, claro, entre a menina e o menino, sob a tutela de um professor sonhador que vai comer morangos naquela terra seca da Andaluzía, pode acontecer alguma coisa. E temos ainda o dono da taberna catalão, em época em que torcer pelo Barcelona era já fincar posição anti-franquista. E temos Bruno, seu filho.

Para um filme despretensioso, tem-se um bocado. E, ao contrário do que seria lícito supor, temos pouca música. Mas temos aquela que levam como tesouro no pequeno gravador.

O Primeiro Pierogi (A Gente Nunca)



Comer pierogis na Maria Escaleira é experiência que continua em casa, quando decidimos nós outros mesmos fazer os famosos pasteizinhos, um dos ícones da culinária polaca. Sendo a vez primeira, e sendo coisa polonesa, optamos pelo recheio mais popular :: purê de batatas com queijo. Este foi um Minas curado ralado na hora. Servimos com um molho de cogumelos frescos salteados na manteiga. Para acompanhar, nada de vodka, que hoje começa o verão. Escolhemos um branco regional purtuguês.

O resultado final não foi tão gostoso quanto o processo. Conforme já levemente previsto, a coisa toda ficou algo massuda, e, não fossem os cogumelos, sei não.... Para a próxima vez, tentar recheio de repolho, chucrute ou espinafre, para ficarmos ainda em fronteiras pölskas.

Acompanhamento musical :: Penguin Cafe Orchestra
Acompanhamento literário :: O Tambor, Günter Grass




Saturday, December 20, 2014

Marc'harid ::: a vaquinha bretã que amava as flores



Uma das joias da coroa dessa coleção doida de livros de bichinhos nas línguas do mundo inteiro, Marc'harid conta a história de uma vaca florida (flores brancas sobre a pele negra, numa irresistível alusão ao nacionalismo bretão) incompreendida em seu amor pelas flores. A vaca branca come o buquê que Marc'harid lhe dá de presente. A malhada bebe a água na qual nossa heróina vaidosa admirava a flor que acabara de pendurar no chifre. A preta faz cocô sobre a flor azul que Marc´harid contemplava. Não são vacas más, são vacas, demasiado vacas. Marc'harid é que tem gostos diferentes, sensível demais, provavelmente canceriana. Quando o inverno a tudo cobre com seu manto branco, Marc'harid chora e nesse momento Dante chora também. Aliás, ele já quer começar a chorar antes dessa parte e eu peço que espere. As demais três vacas vêm consolar a florida e como depois do inverno vem a primavera, no final tudo fica bem sem que Marc'harid abra mão de sua diferença.

É um lindo livro, de belas ilustrações. Para que se tenha ideia do quanto o bretão é opaco para falantes / leitores de línguas latinas ou germânicas, eis o trecho em que Marc'harid sente-se desolada sobre o campo coberto de neve :: "Diwezhatoc'h e tiskouezas ar goañv beg e fri hag an erch'h a zeuas da c'holeiñ ar vro".




Thursday, December 18, 2014

Mulher Andando Nua pela Casa


mulher andando nua pela casa
Carlos


mulher andando nua pela casa
perfeito decassílabo do poeta
com os seus cinco jambos justapostos
pode ser lido como heroico ou sáfico
no perfeito equilíbrio dos seus ictos
assim Drummond nos reinventa os ritos
com seu poema fescenino e báquico
poeta itabirano de mil rostos
nem na velhice andou em linha reta
moderno enquanto a eternidade atrasa

mulher andando nua pela casa
é verso errado da cabeça ao pé
minimamente não faz ver o que é
mulher andando nua pela casa

Saturday, December 13, 2014

Vassouras ::: Pequeno Ensaio



Bastante empolgado ainda com a história da beladona (só vendo aqui para entender), resolvi conhecer enfim a cidade de Vassouras, onde eu jamais estivera senão uma única vez bem pequeno apenas para cair da rede, dar com a cabeça no chão e desmaiar. Desta feita. permaneci na histórica cidade cafeeira só por algumas horas, mas que já ensejaram este pequeno ensaio.











Monday, December 08, 2014

Três Paineis Azulejares na Tijuca



Não sei por quê, mas algo me dizia que aquela transversal da José Higino esconderia algum segredo, o que se revelou verdadeiro.

Partindo da Zé Higino em direção ao Uruguai, há do lado direito duas casas com paineis azulejares no quintal da frente. A primeira tem um de 48 peças, interessante pela sua relativa contenção :: paisagem bucólica de vegetação temperada, o velho escapismo de sempre. Com algum exagero, pode-se dizer mesmo que a vegetação verdadeira está ali para fazer certo trompe-l'œil com os azulejos.

Pouco mais adiante, numa mesma casa que infelizmente parece habitada apenas por gato gordo escondido sob banco também ele de azulejos (o banco, não o gato), dois maravilhosos paineis de 70 azulejos cada. Nada de contenção por aqui, mas o que Frederico Morais denomina, em Azulejaria Contemporânea no Brasil, "kitsch delirante". Em um dos paineis, um casal (ó, Marília bela!) faz juras d'amor eternas em ambiente tão outonal quanto medieval. As pastilhas cor vinho da parede não poderiam fazer moldura mais perfeita.

No outro painel temos aves tropicais sobre árvores ou no córrego. Mas reparem que a neve cobre o pico das montanhas do fundo, num evidente confronto de cor local com a onipresente paisagem europeia. Talvez se possa falar em indicador da origem do proprietário, se bem que, como sabemos, neve em Portugal só na Serra da Estrela. (Ou quem sabe, talvez o delírio do meu avô, ao mudar-se de Copacabana para a Tijuca, conforme relatei neste post aqui.)

O painel árcade é assinado por um Celino, que faz graça com as letras. É de supor que o das aves também seja seu.

PS: Morais, ao falar em "kitsch delirante", o faz em tom condescendente e paternal, fino crítico acadêmico que é. Eu amo o kitsch delirante de paineis assim e se pudesse nada mais fazia senão caçá-los por aí.
 





Strawberry Fields Forever ou Soneto Escrito com Baba em que Dois Versos Escorreram Fora



a namorada ama os morangos come
às dúzias no café do hotel sobre eles
derrama lenta e mornamente o mel
que lhe escorre dos dedos lambuzados
de mim reclama que eu sempre os rejeito
e não há mesmo jeito de fazer
que eu desfrute de algo assim tão ácido
fico com o pão tungado no café
com leite e já nem preciso mais
mas ela tudo sabe veio pro
café vestida com vestido apenas
assim me tenta pega um coloca
meticulosamente sob o pano
e me leva à boca e mais outro e todos

e com o que me escorre da boca escrevo
das celestiais virtudes do morango

Sunday, December 07, 2014

Crônicas Búlgaras 5 ::: O Mosteiro de Rila



Ao chegar ao Caraça em 1881, Dom Pedro II exclamou que só o Caraça pagava toda a viagem a Minas. Só não sei se antes ou depois de escorregar na pedra que até hoje traz em si inscrição da duvidosa glória. Parafraseando o Pedrão, digo que só o Mosteiro de Rila paga toda a viagem a Bulgária.

Chegamos lá a partir de Sófia em mínima excursão de três :: nós dois e um velho inglês. Como estávamos em dia de semana no ápice do inverno, tínhamos todo o gélido mosteiro para nós. Fundado por São João de Rila no século X, o complexo foi reconstruído na primeira metade do século XIX depois de um incêndio. As pinturas, portanto, não são assim tão vetustas, o que pouco importa. Símbolo da renascença búlgara, bastião da eslavicidade em meio à ameça e ao domínio turco, uma glória artística para quem ama afrescos.

Repetirei Rila a cada volta à Bulgária.

É tanta coisa para fotografar. Para este pequeno post publico apenas algumas fotos do Inferno ("Изоставят всички се надяваме, вие, които влизат тук", búlgaro para "Lasciate ogni speranza, voi ch'entrate"), assim como no post dos azulejos da Glória publiquei apenas anjos. Um modo de equilíbrio, quem sabe.








PS: E abaixo fotos da estreita saída da caverna onde São João morou. Reza a lenda que só não fica entalado aquele que é livre de pecados. Passei fácil.




Saturday, December 06, 2014

Assisti a The Song Remains the Same. 50 Vezes.


Quando ia passar The Song Remains the Same, aqui traduzido ao pé-da-letra e horrorosamente por Rock é Rock Mesmo, acampávamos no cinema e assistíamos a três ou quatro sessões de uma vez. Num único dia. Sempre assim. A penúria de shows era tanta, estamos na primeira metade dos 80s, que era assim e vibrávamos como se fosse em show, alguns perdiam a linha e outros tiravam fotos da tela até os lanterninhas chegarem.

Em Benji, álbum lançado em fevereiro deste ano pelo singer-songwriter californiano de timbre neil-youngiano Sun Kil Moon (ou Mark Kozelek), a oitava faixa atende por "I watched the film the song remains the same" e dura a bagatela de dez minutos. Venhamos que nada usual para um disco de singer-songwriter.

Seu disco, btw, está na lista dos Top 50 da Mojo.

Ele pode ser ouvido aqui no Spotify. Mas recomendo a quem gostar que compre o CD e assim prestigie o artista e todos envolvidos com o trabalho.

Shaping the Curve ::: Michael Nyman ao Vivo


Conforme eu já antecipara aqui, tive recentemente a oportunidade de ouvir uma peça de Michael Nyman ao vivo, no caso "Shaping the Curve" pelo Quarteto de Cordas da Cidade de São Paulo acompanhado do saxofonista francês Clément Himbert. Trata-se de peça pouco conhecida, antiga (1990) e pequena (11') que serviu como estudo para a mais famosa "Where the Bee Dances".

Foi a última apresentação do ano do Quarteto na Sala do Conservatório e a de programa mais ousado e, ainda que trocassem a Fantasia de Britten pela do Villa, tocar em uma noite Szymanowski e Nyman é já notável e louvável. Outras apresentações ao longo do ano desvelam o desejo de tocar música de câmera brasileira para além de Villa-Lobos (Santoro, Gnatalli, Guarnieri, Sérgio Assad, Nepomuceno, Almeida Prado, Henrique Oswald, Osvaldo Lacerda) somado a outros compositores menos usais como André Caplet, Leo Brower, Carlos Gustavino e Ginastera. O repertório foi, portanto, o ponto alto da noite.

Quanto à performnace em si, faltaram verve e intimidade na poderosa peça do Szymanovski, que soou como se em mono. O Nyman estava muito bom mas Himbert comeu algumas notas. A violinista Elisabeth Perry já comentara que a música de Nyman demanda enorme esforço físico do violino (para dúvidas ouvir "Angelfish Decay"), e parece que o mesmo se aplica ao saxofone soprano.

O ruim ficou por conta das brincadeiras e piadas, forçadíssimas, do violista Marcelo Jaffé, que já seriam indesculpáveis em concerto didático para o Ensino Fundamental. Percebe-se a intenção de aproximação do público, a velha desculpa de quebrar a sisudez do ouvinte de música erudita etc mas o aprendiz de Jô Soares deveria saber que um sujeito que vai a uma sala de concertos e paga para ouvir um quarteto de cordas tocar peças modernas e contemporâneas é diferente daquele que vai ouvir As Quatro Estações num domingo de manhã na Quinta da Boa Vista ou Ibirapuera. E espero não vejam postura elitista aqui, porque não há.

Thursday, December 04, 2014

O Último Bravo ::: Belmonte de Copa



Não gosto sequer da ideia de botequim com filiais, de modo que o único Belmonte que realmente presta é o da Praia do Flamengo, onde se devora excelente javali aperitivo. Evoé, Obelix.

O de Copacabana, porém, vale a visita por ter o último painel (5 metros) de Nilton Bravo, pintado especialmente para a casa. Aí aprovo :: os caras tiveram a grande atitude de fazer uma encomenda para o que fora e sempre será o "Michelangelo dos botequins", aquele que, segundo Carlos Heitor Cony, será lembrado no Dia do Juízo Final como o maior pintor brasileiro do século. A quinta filial do Belmonte abriu em 2005, ano em que Nilton morreu aos 68 anos.

Nada de paisagens bucólicas e ipês aqui. Em vez, a gritaria quente das araras, praticamente as mesmas da casa do meu amigo e grande nilton-bravólogo Rixa (ver aqui). Dir-se-á certo aburguesamento, concordo, e pode-se mesmo suspirar pelos Bravos suburbanos tingidos por gordura barata, mas a festa das cores decerto nos faz pedir outro e mais outro chope.






Já escrevi muito sobre o Bravo, até soneto pra ele já fiz (ver aqui, com link para outros posts também).

Tuesday, December 02, 2014

Gozando Junto IIIIIIIIIIIIII

Gozando Junto chega à sua décima-quarta edição, sem pretensões de ser a chave-de-ouro do soneto, mesmo porque enjoei de soneto com chave-de-ouro.

Delícia abrir com foto do último dia do Terceirão no CAp. As demais são em Sampa, Casa das Rosas, a linda exposição do Giramundos, a do Dalí.