Wednesday, November 20, 2013

"Longe da Árvore", de Andrew Solomon



A única pessoa que ainda me escreve cartas é meu pai. Ele gosta de mandar resenhas de livros e recortes de jornal em geral. Não, ele não é aposentado. Mas sempre encontra tempo para fazer isso e sobretudo para ler: compulsiva e onivoramente.

A mais recente que recebi, deixei-a jogada no escritório, sem abrir, com a desculpa contumaz da falta de tempo. Numa manhã de domingo particularmente difícil e estressante com o Dante (estávamos sozinhos), abri. Era a resenha da Folha de São Paulo de Longe da Árvore, recém-lançado no país, bem como uma longa (e ótima) entrevista com o autor Andrew Solomon. Senti-me estranhamente melhor.

Na tarde do dia seguinte não havia nada a fazer senão comprar o livro. Ainda na barca, voei para o capítulo 5.

Não é leitura que se faz impunemente. Eu me enxerguei tão claramente ali, e ao Dante, que, no mínimo, senti-me menos só. Não é leitura que se faz impunemente, não é leitura que se faz sem lágrimas ou sem identificação. Não é leitura que se faz sem alívio e fortalecimento, mas tampouco é leitura feita sem desespero.

Seu levantamento exaustivo, seu conhecimento vasto e minucioso sobre os assuntos impressionam. Entremear relatos acerca das famílias que têm filhos com necessidades especiais com dados técnico-científicos sobre as doenças e ainda com as lutas e embates sócio-políticos atuais (as informações acerca da polarização dos defensores da neurodiversidade e aqueles que "odeiam"o autismo são exemplo) acaba por emprestar à obra uma coesão admirável.

Longe da Árvore coloca-se muito além dessa bobajada de autoajuda e "superação" que infesta as livrarias (e as prateleiras do facebook), tanto que os dois últimos parágrafos do capítulo 5 bem como os relatos dos filicídios são estarrecedores. Mas é uma perturbação pela qual eu precisava passar.

Mas / E travar contato com pessoas como Cece, que já tomou Abilify, Topamax, Seroquel, Prozac, lorazepam, Depakote, trazodona, Risperdal, Anafranil, Lamictal, Benadryl, melatonina e Calms Forté, e com Icilda e Marvin Brown foi das experiências mais fortes por que já passei desde que o Dante nasceu.

Este é o Andrew Solomon



Este é o Dante

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