Saturday, September 28, 2013

Grajaú ::: 28 de setembro de 2013



a tarde sempre arranha alguma coisa
e se é domingo então aí phodeu
me rendo às flechas da melancolia
vou à caça daquilo que foi meu

nas velhas ruas do meu bairro eterno
caço tamarindeiras pelo chão
como é próprio bem próprio dos von sydows
agarrar-se feroz aos tempos idos

como os velhos poetas medievais
aproveitando este momento augusto
eu me pergunto entre dor e susto

enquanto me lambuzo de caqui ::
então mesmo que eu more na Mongólia
a minha sombra há-de ficar aqui?

Friday, September 27, 2013

Limerique de sexta-feira (a noite)

Dante com 14 meses


Sshhh sshhh, agora dorme, não há dúvida
respira a mais justa porção devida.
Dorme dorme, que eu te velo.
Dorme pra acordar mais belo
teu ressonar me alimenta a vida.

O trompete de Penny Lane



David Mason, todos lo saben, é do Traffic.

Mas todos lo saberán también que é um David Mason quem toca o trompete em Penny Lane? A canção eterna cheia de ampulhetas e metonímias? E trompete.

Eterno. In my ears and in my eyes.

Gozando Junto IIII

Mais do mesmo. Ou não.









Quando digo ao pai que vou à Grécia



e quando digo ao pai que vou à Grécia
ele mal levanta os olhos e diz
é?
o sangue dos galegos velhos fala
alto e flui como que por mãos em concha
o seu sangue ancestral de Pontevedra
casa de xisto aldeia de pedra
não evapora no calor dos trópicos
mas daí ele vem na despedida
em meio à troca de beijos pelo rosto
ó, me traz umas moedas de dracma
quero brincar com Seu Joel da feira
traz pedaço daquele céu de Atenas
e o canto seis da Odisséia :: manuscrito






Thursday, September 26, 2013

Amar à tarde como os vagabundos



amar à tarde como os vagabundos
que de vaga em vaga de carne em carne
se amam :: o doce atrito entre os corpos
amar à tarde qual  desempregados
que empregam concentrados os seus corpos
no amor em plena terça-feira à tarde
em um setembro de 2013
amar o que arde o instante breve
tatuado em filigranas pelos corpos
amar portos abertos pelos gozos
amar gozos franqueados por espaços
amar
a tarde eternizada por cigarras
que ainda virão    ::  amar a espera

São Cosme e Damião, de Rubem Braga



Rubem Braga publicou a crônica abaixo há 56 anos. A foto é minha, casa em Cubango.

Sobre Rubem recém escrevi aqui e aqui. De azulejos em fachadas e platibandas, há mais tempo aqui.

SÃO COSME E SÃO DAMIÃO

Escrevo no dia dos meninos. Se e fosse escolher santos, escolheria sem dúvida nenhuma São Cosme e São Damião, que morreram decapitados já homem feitos, mas sempre são representados como dois meninos, dois gêmeos de ar bobinho, na cerâmica ingênua dos santeiros do povo.

São Cosme e São Damião passaram o dia de hoje visitando os meninos que estão com febre e dor de cabeça por causa da asiática, e deram muitos doces e balas aos meninos sãos. E diante deles sentimos vontade de ser bons meninos e também de ser meninos bons. E rezar uma oração.

"São Cosme e São Damião, protegei os meninos de Brasil, todos os meninos e meninas do Brasil.

Protegei os meninos ricos, pois toda a riqueza não impede que eles possam ficar doentes ou tristes, ou viver coisas tristes, ou ouvir ou ver coisas ruins.

Protegei os meninos dos casais que não se separam e se dizem coisas amargas e fazem coisas que os meninos vêem, ouvem, sentem.

Protegei os filhos dos homens bêbados e estúpidos, e também os meninos das mães histéricas ou ruins.

Protegei o menino mimado a quem os mimos podem fazer mal e protegei os órfãos, os filhos sem pai, e os enjeitados.

Protegei o menino que estuda e o menino que trabalha, e protegei o menino que é apenas moleque de rua e só sabe pedir esmola e furtar.

Protegei ó São Cosme e São Damião! - protegei os meninos protegidos pelos asilos e orfanatos, e que aprendem a rezar e obedecer e andar na fila e ser humildes, e os meninos protegidos pelo SAM, ah! São Cosme e São Damião, protegei muitos os pobres meninos protegidos!

E protegei sobretudo os meninos pobres dos morros e dos mocambos, os tristes meninos da cidade e os meninos amarelos, e barrigudinhos da roça, protegei suas canelinhas finas, suas cabecinhas sujas, seus pés que podem pisa em cobra e seus olhos que podem pegar tracoma - e afastai de todo perigo e de toda maldade os meninos do Brasil, os louros e os escurinhos, todos os milhões de meninos deste grande e pobre e abandonado meninão triste que é o nosso Brasil, ó Glorioso São Cosme, Glorioso São Damião!"

Tuesday, September 24, 2013

Novos limeriques para o Dante

1 ano e 10 meses



Apago a luz, o dia (penso) encerro.
Mas logo do pequeno eu ouço berro.
Hora de dormir, brincar!
Hora de brincar, gritar!
Deixa ele, pô, ninguém é de ferro.


Ratatá ratatá bate o tambor
Ratatá ratatá muito furor
Não sei que horas são na China
Aqui são três da matina
(Não quer deixar pra depois, meu amor?)


São 4:30, um galinho distante
Canta amestrado pra acordar o Dante.
E ele desperta e gargalha.
Alguém me entregue o canalha
num bom coq au vin com molho bastante!


Bem cedinho segue o pai pra cozinha
De mansinho, não acordar vizinha.
E corta meio zumbi
Mamão banana kiwi
Já está pronta a primeira papinha.


Ai, que preguiça às vezes pra andar
é pedir colo pra nele ficar.
Ora, sai daí de cima
Assim, nem Macunaíma
O malandro que só queria brincar.





Monday, September 23, 2013

Primavera criança me segreda



eu vejo a moça na janela antiga
mirando quieta o rio que lhe flui
das mãos o dia corre assim emol
durado pelos olhos pelas mãos
extático em sua própria duração
eu vejo a moça antiga na janela
os olhos sobre as águas que de pedra
em pedra sem pressa fazem espuma
e não é qualquer moça ::: é a uma
a quem confio algo de secreto
que a primavera :: criança :: me segreda
seja assim primavera minha mestra
a ensinar-me que a moça será esta
a quem confio :: são tuas :: minhas mãos

Tuesday, September 17, 2013

Nossa Senhora da Boa Morte em Minas



Também de Buda não se diz que morrreu, mas que se deitou, sob figueira, daí as lindas (às vezes enormes) imagens de Sidarta reclinado, de que vi espantosos exemplos no Sri Lanka.

Nossa Senhora da Boa Morte representa o momento em que a mulher do carpinteiro deita-se para dormir, depois de, convenhamos, vida algo atribulada.

Acho que o culto à Nossa Senhora da Boa Morte não pegou muito por aqui. Em Cachoeira-BA, no entanto, ele é forte, por isso estou doudo para voltar lá. Forte na forma de não poucos sincretismos, por isso mais ainda doudo para voltar.

Em passeio recente pela velha Sabará, encontro imagens desta Nossa Senhora :: no museu anexo à Igreja do Rosário e naquela fantasmagoria linda que é a igreja de Nossa Senhora da Conceição.

Isso só reforça o caráter 'sevilhano' de Minas, tão a gosto de Pedro Nava.

"Minha Minas. Muito mais espanhola que portuguesa, muito mais cervantina que camoniana, goiesca que nuno-gonçalvina. Pelo tipo de teus filhos. Por tua porcentagem de ferro nas almas. Pelo auto-de-fé de teus crepúsculos vermelhos como Sevilha - como a Semana Santa acesa de Sevilha. Pelo teu gosto pela Morte. Vi na mais alegre de tuas cidades -- Diamantina -- uma sacristia cheia de recipientes enormes lembrando compoteiras, sopeiras quadradas. Descuidado, abri uma delas. Ossos. A outra, a terceira, todas -- cheias de ossos. O velho Pinheiro que acompanhava minha visita explicou que aqueles restos ficavam ali para as famílias virem, dia de Finados, rezar diante das urnas, tampa na mão, olhos ns caveiras, nos fêmures, tíbias, cúbitos, vértebras, no resto dos esqueletos que estavam esperando pelos deles. Teus mortos, Minas!" (Chão de Ferro, pp. 309-310)

Monday, September 16, 2013

Meu barbeiro poeta



Nunca tive fidelidades como as do meu pai: só cortar cabelo com o barbeiro Fulano, só comprar bilhete de loteria com o engraxate Sicrano, só engraxar sapato com esse mesmo engraxate também vendedor de bilhetes de loteria federal, só trocar os carburadores do Passat com o mecânico Olímpio.

Eu cortava o cabelo em qualquer barbearia do Grajaú ou do Andaraí e nunca joguei na loteria.

Mas de ano pra cá, desde que deixei a barba crescer, passei a ser fiel ao Levi, só a ele confiando os fios para que eu possa cofiá-los depois, só a ele permitindo o de sempre: máquina 1,5 e pescoço.

Levi é perito mas a fidelidade nasceu mesmo depois que o descobri poeta. Diga lá quem tem o privilégio de ter barbeiro poeta. Sempre que vou ao salão do Campo de São Bento, conversamos quase que exclusivamente de poesia. Às vezes pede ajuda com o metro rebelde de um verso e eu faço lá o que posso: máquina 2 aqui, de modo a deixar sua redondilha redondinha.

O pernambucano Levi Cesario acaba de lançar Rima melhor quem rima por último. Filho de cordelista, é mesmo na clave da poesia popular que ele mais me agrada. E nas letras de samba. Como esta vencedora do concurso do Bloco do Pau Caído, de Charitas, deste ano.

Eu sou charitas e sou feliz
estou ficando velho
meu cabelo embranquecido
vou sacudir no Carnaval
pra levantar o seu astral
no bloco do pau caído.

Tomo viagra pra te fazer refém
vem cá, meu bem
no vaivém
sou teu querido
sou teu brinquedo preferido
briga mulher, briga marido
pra quê?
só pra pular no pau caído.

Ineditíssimos Limeriques para o Dante



E não é que ele ama os livros? Não vou
mentir: pegou na estante e colocou
em minhas mãos :: bem assim.
Além de alegrar a mim,
perpetua a memória do vovô.

Era sábado o pai bem que tentou
introduzi-lo ao mundo roquenrol:
Beatles Pink Floyd e The Who
Camel Rush e Jethro Tull
Depois de ouvir direitinho, falou:

Essa música é muito bonitinha
Guitarra bateria e flautinha
Mas então aqui em casa
Ou lá na Faixa de Gaza
Não rola mais Galinha Pintadinha?

E veja ilustríssimo passageiro
este belíssimo tipo faceiro.
E no entanto acredite
nunca que teve bronquite
de rum creosotado nem o cheiro .

Sempre que vai pra casa da vovó
se enche de geleia de mocotó.
E depois quer descidinha
pra cavalgar a Estrelinha.
Pocotó pocotó pocotó pocotó.

Saturday, September 14, 2013

Te beijava sob a pele de um soneto





o som desta paixão esgota a seiva
mário


o som desta paixão esgota a seiva
e que sei do que sou que sei dos meus
sons que só em ti encontram guarida
como a voz das cigarras prematuras
indecentes apaixonadas que
rebentam neste calor de setembro
o som deste setembro é uma sirene
espavorida e corroída desde
a casca :: lembrança de primavera
que paciente nos acena da esquina
a cor deste setembro não engana
nem mesmo a um tolo como eu que te espera
se pudera sussurrar meu afeto
te beijava sob a pele de um soneto

Friday, September 13, 2013

The power of your intense fragility

 
Jorge Amado disse (dizia?) que esse negócio de sentir-se criança, ser criança no espírito etc era tudo furada. O Picasso que amo "leva-se muito tempo para tornar-se jovem" entraria nesse balaio. Amado dizia que só se é criança uma vez mesmo o resto é papo furado. Mas dele me lembro e com ele concordo quando penso que te carrego comigo I am never without you and anywhere I go you go, my dear; and whatever is done by only me is your doing, my darling é bom mas não é suficiente porque preciso do toque das polpas de dedos e lábios the power of your intense fragility

Thursday, September 12, 2013

Limerique pra vovó



hoje é um limerique só
mas é um limerique pra vovó ::



1, 2, 3 modos de beijar vovó:
borboleta estalinho esquimó.
Mas tem vez que esquece tudo
e salpica-lhe cascudo!
(Mas será o Benedito?!! Que dó!)


Anjos também tocam pratos

Que tocavam alaúdes e tangiam harpas eu sabia. Mas não que viessem também a tocar pratos. 

Assim o céu começa a ficar mais interessante...

As pinturas estão na linda e já quase centenária Basílica de Lourdes, em Belo Horizonte, na Rua da Bahia. Outro belo exemplar da febre do neogótico que tomou o país no início do século passado (aqui algumas fotos de neogóticas cariocas).

Tudo que pude apurar sobre o autor:: Bottcher.em 1940.

Neste post aqui também pinturas de anjos (cariocas do Engenho de Dentro) do lado esquerdo do presbitério.





Wednesday, September 11, 2013

A Igreja de São Francisco em Pampulha - Azulejos

Depois de olhar muitas fotos, a primeira impressão que se tem é que a Igreja de São Francisco, na Pampulha em Belo Horizonte, é tão pequena, pode-se quase pegá-la com as mãos.

Não apenas porque décadas passaram e carros e pessoas passam hoje perto como não há 70 anos, aquando de sua inauguração. Não se trata de um apequenamento como o que se deu por exemplo com as igrejas coloniais do Rio, hoje diminuídas pelos espigões que lhes fazem sombra.

Não é isso. Mesmo porque aqui na Pampulha não se ergueram prédios. Ela é pequena mesmo, como pequena a ponto de pedir que lhe tomemos na mãos é a do Ó, em Sabará, distante não muitos quilômetros.

Assim pequena. Não tão monumental. Assim poverella.

A azulejaria de Portinari é de molhar os olhos. A influência de Picasso, sobretudo de Guernica, é clara, nos semblantes apavorados, mesmo os dos pássaros que escutam a prédica de São Francisco. Urgência expressionista.

E pássaros e peixes voam por toda a igreja. Um quê de Escher também. E mares e céus cobrem as bancadas e a balaustrada do coro interno.

Qualquer tour pelas cidades históricas mineiras (e as igrejas históricas mineiras serão ricas em tudo, menos em azulejos) deveria findar aqui.

Reparem que na quinta foto um pássaro se desprende do painel azulejar.





Mais que azulejo


Interior da Igreja

Interior

Tuesday, September 10, 2013

Last House Standing



Meu interesse e espanto por casas, ruas, bairros, cidades decadentes não vem de hoje, tanto que no início do ano escrevi este soneto aqui.

Mas foi o travar contato com o projeto de Ben Marcin que me inspirou o soneto do post anterior.

Sua ideia de retratar as últimas remanescentes, as casas esquecidas por homens, tempo e sobretudo pelas suas colegas é de certa fantamagoria.

Seu trabalho pode ser conferido aqui.

Não será solidão um privilégio

Belo Horizonte :: era setembro de 2013


não será solidão um privilégio
dos homens que passam :: por onde passam
deixam seu visgo de destruição
sob a forma destas imensas câmaras
de gás a que nós chamamos cidade
a solidão também ela se apega
não pegajosa antes fria e seca
nestes seres quietos :: a rua quieta
e deserta :: a casa abandonada
velha e ébria :: o livro na estante
que sufoca sob o pó à falta
dos dedos que outrora amorosos
se um soluço pudesse rebentar
à memória dos dedos que o folhearam

Rua da Bahia - Belo Horizonte de Pedro Nava

É Rua Sergipe, Rua Ceará, Rua Santa Catarina, Rua Rio de Janeiro, Rua Juiz de Fora

Mas é Rua DA Bahia. Vai entender. Desconforto semelhante experimentei criança dos 8, 9 lendo o letreiro da loja em Vila Isabel CANOS E SILENCIOSOS. Por que aquele e? Só muitos anos depois, talvez ontem, descobri que silencioso era uma outra parte do carro. Então canos e silenciosos.

Então Rua da Bahia? Fique. Nava a evocou em página imortal do Chão de Ferro. Todas as memórias  do terceiro volume se passam ali ou perto, mas ele sentiu necessidade ainda de colocar um apêndice "Evocação da Rua da Bahia".

Descer ou subir a Rua da Bahia, mesmo materialmente, mesmo no seu aspecto puramente mecânico, era arte delicada. Pelos paralelepípedos ou pelos tijolos queimados dos declives laterais (...), pelos passeios coalhados das sementes vermelhas que caíam da arborização e que estalavam sob as solas -- pelo meio das ruas ou rente às casas -- havia um jeito especial de caminhar, um modo particular de trocar os passos que era especialidade mineira, traço de cultura conservado pelas gerações adestradas nas "escadinhas"  de Ouro Preto, nos "pés de moleque" do Sabará, nas "capistranas" da Diamantina... Devagar e preciso. Lento e seguro. Uma espécie de meneio para os lados, a troca dos pés sem pressa, um andar compassado para não perder o fôlego e poder conversar de rua acima, a cabeça baixa (...) Andar mineiro, paulatino e inabalável andar mineiro.

Encontrei-o ali, na esquina com a Goiás. Como cá no Rio a galera só arrancar os óculos do Drummond, achei por bem, como contra-exemplo, deixar os meus com o Nava. Que era tudo menos míope.

Na Rua da Bahia ergue-se também hoje monumento em homenagem ao compositor Rômulo Paes. Lemos: "A minha vida é esta: / Subir Bahia e / Descer Floresta". Versos g(l)osados no avesso do monumento: "Minha vida é essa / Subir o morro e descer / com a erva".

Não digo Nava assinasse embaixo, em apologia à cannabis. Mas o espírito da rebeldia é o mesmo do Nava moleque / adolescente que subia e descia a Bahia (a da Bahia) atirando pedradas nos adoradores do por-do-sol e que tinha ódio ao governo e sonhava com "a deposição do Presidente do Estado, o encarceramento dos seus Secretários, o esbordoamento dos deputados e uma matança de delegados".

Nava (de quem falei aqui, aqui e aqui e aqui, só para lembrar alguns) :: eterno. Inda mais se enriquecido com o vermelho e ouro desses poentes que só existem em Beagá.




Monday, September 09, 2013

Liberdade, Praça da Liberdade

Com a construção de um centro administrativo pra lá da Pampulha, quase chegando já nos confins do aeroporto (a um custo nada baixo, imagino), a coisa boa é que muitos dos prédios públicos da Praça da Liberdade se converteram em belos espaços culturais.

A Praça tá tinindo de bonita, em especial sob cores mais macias do sol. 

O incessar dos chafarizes atiça a libido dos casais, em especial os das nascidas na Ilha de Lesbos, que já elegeram certo canto do coreto, para derrota incomparável da TFM. Atravesso a Liberdade também à noite, depois de devorar os tomates verdes fritos do armazém. Na mesma noite em que punks ocupam algum corredor do Museu do Conhecimento e ensaiam um e outro grito de guerra, quiçá dos Dead Kennedys.








Ainda mais outros limeriques para o Dante




Menino mais guapito do Ingá.
Eu me pergunto mesmo se haverá
outro tão belo no mundo.
Não sei. Medito profundo.
Só o sábio de Sabará saberá.


Limerique é poeminha brincalhão.
Nada de ohs ganidos do coração.
Isso impedirá que eu diga
se el' dorme em minha barriga
que amo esse moleque de montão?


O Dante tira pós em carrapato
E faz do pobre pai gato e sapato.
Pega o cangote e não solta
antes de um milhão de voltas.
Vejam que é mocinho de fino trato.


De poetastro já recebi diagnóstico
Aliás, a mesma coisa que pernóstico.
Nem me importo, dou sorriso
todo prosa e logo aviso:
este daqui é limerique-acróstico.

Tuesday, September 03, 2013

Ó de casa, o Nilton Bravo está?



Quando conheci o casal de poetas Afonso Félix de Souza e Astrid Cabral e seu apartamento em Chicago em 1986, delumbrou-me conhecê-los como deslumbrou-me ver pendurada numa parede do modesto apê uma tela de Chagall. Tela tela, óleo sobre tela, autêntica.

Quando perguntei ao Afonso, ele me respondeu com sua habitual simplicidade "Comprei num leilão em Paris", como se fosse alguém em Canoa Quebrada dizendo "Vou ali tomar uma água de coco".

Isso só aumentava meu deslumbre.

Pois. Há uma semana visitei apartamento de amigo que ostentava em uma de suas belas paredes (o apartamento não o amigo) um autêntico Nilton Bravo (de quem já tratei aqui, aqui e aqui)

E euzinho aqui caçando Bravos pelos botequins mais sórdidos! E eu que achava que Nilton Bravo só existia em botequim!

Outro alumbramento. E nem uma nuvem de amargura / Vem a alma desassossegar.





Monday, September 02, 2013

Outros mais limeriques para o Dante




O Dante é um Domingues não um Pinto
se fosse, agora que fará os 5
já quase chegando aos 6
mudasse o nome talvez
de Inácio Pinto pra Jacinto Pinto.



Zero em comportamento tem nenhum
pudor, misto de Didi com Mussum.
Se tem vontade, ele arrota
e fica cheio de risota
achando graça quando solta pum.



Na cabeça cultiva caracois.
Serão escargots?serão muitos sois?
Sei que enrola e desenrola
E alheio, nem me dá bola
enquanto faz bagunça em seus lençois.



A Dear Prudence wouldn't come out to play.
O porquê disso eu juro que não sei
Aqui em casa é diferente
qualquer coisinha a gente
logo desce correndo para play


Cinco versos duas rimas não tem truque
não precisa de cérebro ou de muque.
Isto tudo é bizarria
o legal mesmo seria
escrever limerique em volapuque.