Monday, March 18, 2013

Ecologia no Rock Progressivo Italiano



Em recente post sobre o Area falamos dos conturbados anos 70 na Itália. Ir a um concerto de rock, ter uma banda de rock era assumir um compromisso político, amiúde no sentido mais mesquinho do termo (o que explica o ostracismo a que foi relegada uma das bandas mais maravilhosas, o Museo Rosenbach, só [só?] porque o artista responsável pela capa incluiu em sua bela colagem uma foto do bufo Mussolini, mas isso é outra história e estes parênteses [com direito a colchetes] já estão muito longos).

Na enorme maioria dos casos o compromisso político pendia para a esquerda e nesta agenda política residia o que considero um dos legados mais duradouros e válidos de todo o envolvimento político jovem do final dos anos 60 e início dos 70: a ecologia.

Vêm-me à mente agora três bandas que trataram do assunto: Blocco Mentale (em seu álbum Πoa, de 1973), Le Orme (em "Cemento Armato", do Collage, de 1971) e Reale Accademia de Musica (em "Lavoro in Città", do álbum homônimo de 1972).

O álbum do Blocco Mentale é inteiramente dedicado ao assunto. Πoa, palavra grega, significa "grass". O disco, considerado menor por fãs e crítica, é simplesmente ótimo, com destaque para o Lato B, em que figuram "La Nuova Forza" (a canção mais elaborada, com 8:08) e "Ritorno", que, como o título anuncia, retoma o tema que abre o disco. Aliás, o disco poderia ter ficado por aqui, poupando-nos da fraca e comercial "Verde", que corporifica o que a banda não tem de bom: a ingenuidade. (Mas a faixa tem mellotron!!!, tá, deixa ela lá!)

"Cemento Armato" e "Lavoro in Cittá", em sua oposição campo X cidade, em que aquele é glorificado em detrimento desta, ilustram certo rousseaunismo romântico típico do período.

Em ambas forma e fundo entrelaçam-se perfeitamente. Na música do Le Orme, que começa literalmente com um grito de alerta, toda uma atmosfera opressiva e claustrofóbica criada por Micchi, Aldo e Toni, sublinha versos como "Cimento Armado, a grande cidade / Sentir a vida que se esvai / Perto de casa não se respira / é sempre escuro." A banda pode dar vazão às suas habilidades instrumentais, mostrando que à influência do ELP, a começar pela formação triangular, podia-se juntar um tempero mediterrâneo.

A canção do RAM é semelhante neste aspecto. Ao menos parcialmente. Dividida em três partes, a primeira assemelha-se muito à do Le Orme: atmosfera sombria de modo a transmitir o trabalho rotineiro e mecânico a que os pobres mortais são submetidos nos grandes centros urbanos. Toda essa atmosfera, no entanto, dá lugar a uma segunda seção na qual há espernaça (ça ira!) e temos aqui de volta o Reale soberbo das faixas ímpares (esta é a quinta do disco). Tutto è divino. Acho que para não serem acusados de maniqueísmo, a banda, uma das minhas top 5, termina a faixa em um mood inteiramente diverso, mesmo jazzístico.





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