Sunday, October 23, 2011

The horror, the horror



Não são poucas as vezes em que as célebres últimas palavras de Kurtz me vêm à cabeça, o que não é nada bom. Elas me vêm à cabeça quando leio que crianças viciadas em crack improvisam um chá de pilha alcalina para saciar/ disfarçar / amainar seu vício na impossiblidade de fumar as pedras. E elas me vêm a cabeça quando.

Sabem o filme O Sexto Sentido? Bom filme, bem feito, perspicaz em seu truque. Mas aquela história de ver gente morta não tem nada de horror para mim. Zumbis, múmias, lobisomens e toda essa palhaçada recente de vampiros não têm absolutamente nada de horror para mim. Horror, horror mesmo, é quando descobrimos, no filme, aquela personagem mãe que mantinha seus filhos doentes para que dela as pessoas tivessem pena. Chegou a matar um dos filhos. The horror.

The horror, the horror são as palavras que me vêm à cabeça quando tomo ciência dos quatro médicos de Taubaté que, na década de 80, retiraram os rins de pacientes AINDA VIVOS para os venderem a pessoas necessitadas de transplante na capital São Paulo. Com isso, mataram quatro. The horror.

Quase trinta anos, são enfim condenados a 17 anos e meio de prisão. Um dos monstros, um neurologista, morreu ano passado. Que o inferno lhe seja doce.

Poderão recorrer em liberdade. The horror.

Durante todos esses anos, continuaram a exercer a profissão, dado que os Conselhos de Medicina não encontrarm motivos para cassar-lhes o registro. The horror.

Não me consta que os beneficiários do esquema (que chegaram a pagar entre 35 e 70 mil reais) tenham sofrido qualquer punição. Receptação também não é crime? The horror.

Quantas vezes usei a palavra horror aqui? Bem mais que Kurtz, não? É que este viu os hororres da colonização belga no Congo, sendo ele mesmo instrumento desse horror.

Mas não conheceu ele os médicos de Taubaté.

Nem a Justiça brasileira.

2 comments:

Mateus Maciel said...

DEMAIS!

Mateus Maciel said...
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