Saturday, September 24, 2011

O Quarto do Filho




Reza o segundo princípio do DOGMA 95 que "o som não deve jamais ser produzido separadamente da imagem ou vice-versa". Em outras palavras, a música não poderá ser utilizada a menos que ressoe no local onde se filma a cena. Em outras palavras ainda: fim da trilha-sonora. A não ser.

A não ser que seja incidental. Depois de assistir a Sociedade dos Poetas Mortos com meus alunos, toco-lhes trechos da trilha, pedindo que identifiquem a que cena cada trecho corresponde. Eles, que já assitiram ao filme, em pedaços, há muitos dias atrás, cumprem a tarefa com perfeição e entendem bem a distinção entre os dois tipos de trilha. Neal, Knox, Charles não ouviam música alguma quando seguiam para a caverna à noite, mas nós, espectadores, sim, ouvimos Jean Michel Jarre. Tampouco eles ouviam harpa e gaita de foles quando, na última e inesquecível cena, subiram nas carteira para desafiar a educação opressora... Entretanto, eles, os personagens, ouviam a música tocada in loco durante a apresentação teatral de Neal. Segundo o Dogma, apenas este último exemplo seria válido.

Em O Quarto do Filho, de Nanni Moretti (bom cineasta e ator quando consegue frear seu narcisismo), esses dois tipos de trilha aparecem numa mesma cena (ou quase). É ver o vídeo e comprovar. O persoangem ouve a extraordinária canção de Brian Eno ("By this River") tocada na loja de Cds... Mas não a ouve quando perambula, desolado (sim, seu filho já morreu) pelas ruas de Ancona. A menos, claro, que ela estivesse ressoando em sua cabeça... O que, ocorreu-me agora, não seria nada improvável... O que faria o Dogma com isso?




(Aliás, como diria Didi Mocó: caiu aqui... Durante madrugadas passadas com o Dante, me sinto exatamente como pai, mãe e filha na última cena deste filme. Isso dá um post. Mas este post não escreverei.)

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