Tuesday, April 19, 2011

The uglification of the world

"Por toda a parte a música se transformou em ruído. Olha. Estas flores de plástico -- chegam a colocá-las dentro d'água! E olha para aquilo. Aqueles prédios -- the uglification of the world. O único lugar onde ainda se pode encontrar beleza é onde os seus perseguidores esqueceram de atacar. É um processo global, insuportável."


O trecho acima é de um diálogo entre Tereza e Sabina, no livro A Insustentável Leveza do Ser, do Milan Kundera. Elas estão em um restaurante e Sabina pede ao garçom que tire o "barulho" (a música que tocava ao fundo). Como o gerente nega seu pedido (os outros clientes parecem gostar do "barulho", ele replica), elas levantam-se e vão embora.


Traduzi ligeira e livremente, mantendo em inglês o trecho mais interessante por incapacidade de encontrar expressão equivalente em português. Suggestions are welcome. Não sei como é em tcheco, mas em inglês ficou muito bom.


E sábia Sabina. Lembro-me muito bem de uma casa na rua Marechal Jofre, no Grajaú, cuja porta de entrada era emoldurada por belos azulejos amarelos e azuis com motivos florais. Eu adorava aquilo. Quando a casa foi vendida, temi pelos azulejos. Com efeito, foram imediatamente descartados na primeira chance pelos novos proprietários. The uglification of the world.


Andando aqui e ali em busca de casas antigas e interessantes, amiúde deparo-me com isto: belas janelas emparedadas, estuques em gesso castigados e a inevitável e horrorosa esquadria de alumínio. O duro de entender / aceitar é que os belos detalhes já estavam lá. Parece mesmo que o belo e o sensível depertam a cólera. The uglification of the world.




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