Sunday, April 10, 2011

São Lourenço dos Índios




São dois os Sãos Lourenços de Niterói: o dos Índios e o da Várzea. Quem geralmente vai atrás de uma igreja velha de inestimável valor histórico corre o risco de levar gato por lebre, ficando com a da Várzea, de vez que a dos Índios se esconde na colina que hoje é o bairro homônimo, sendo desconhecida mesmo por taxistas.


Mas levar gato, aqui, não será de todo mal, já que a São Lourenço da Várzea, a igrejona do Barreto, do Ponto Cem Réis, vistosa por sua torre, também tem os seus encantos. A dos Índios é uma senhora quatrocentona, muito bem conservada, que se enche de água de colônia e fica muito na sua na festa dos netinhos. A da Várzea é ainda uma mocetona, ok, uma trintona, que capricha no decote e vai à rua atrair olhares.


Primeiro falamos da dos Índios. O sóbrio exterior trai já sua antiguidade, 1585, no primeiro estilo jesuítico no Brasil, com reconstruções nos dois séculos seguintes. Como as igrejas muito caiadas do Serro (MG), o despojamento externo contrasta com a talha do altar-mor simplesmente estupenda. Ao valor artístico soma-se o histórico: aqui, simplesmente, começou Niterói, neste aldeamento dos índios temiminó.


Houve por aqui um prefeito, em 1915, que a declarou monumento histórico, algo de grande pioneirismo para a época, inda mais vindo de uma classe, a política, que entende é outra linguagem de tombamento, o ponha-se abaixo.


Alexei Bueno escreve, em O Patrimônio Construído, sobre os pisos de tijoleira, com geometrias de origem indígena.... Fui ansioso, na esperança de encontrar uma arte mestiça como a que cativou Serge Gruzinski, um dos grandes teóricos das mestiçagens (O Pensamento Mestiço). Aqui, no entanto, a decepção: o chão parece ter sido bastante danificado em reforma recente! (Alô, Patrimônio!). Como consolo, na sacristia encontro uma série de gravuras originais de Carlos Oswald sobre a Via-Sacra. Um tesouro, não da monta dos azulejos do piso ou mesmo da igreja como um todo, mas ainda um tesouro. Chegam a causar preocupação estas gravuras assim, tão sem segurança, em uma igrejinha de um bairro isolado...


São Lourenço vele por elas, e ameace mal-intencionados com a grelha que traz em sua mão esquerda...

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