Friday, April 01, 2011

Com a licença de Dante



Ganha um prêmio quem conseguir ler jornal e não sentir seus dedos encurvarem-se na ânsia de assassinatos.


A notícia da semana, numa semana de Bolsonaro, foi a das primeiras-damas alagoanas que desviavam dinheiro da merenda escolar para comprar whisky, ração de cachorro, boneca. Algumas escolas chegaram a ficar sem merenda por dez dias porque, é claro, se o dinheiro foi desviado aqui, falta ali. Como muitas dessas crianças, estamos falando do sertão de Alagoas, onde já estive, vivem abaixo da linha da pobreza e só têm a merenda escolar como alimento, infere-se que ESSAS CRIANÇAS PASSARAM FOME AGUDA POR DEZ DIAS.


Digo aguda porque fome já passam, merenda ou não. E já têm seu desenvolvimento físico e mental comprometido para o resto da vida. Mas sentiram a dor da fome, que mingau ralo de farinha com água não resolve, enquanto as primeiras-damas se refestelavam com whisky e seus cachorros com ração.


Não é improvável que, em algumas ocasiões, as cadelas comessem elas a ração e deitassem aos totós o whisky comprado com dinheiro público.


Em sua obra imortal, Dante Alighieri fez com que os ladrões, na sétima vala do Oitavo Círculo, fossem eternamente atormentados por serpentes: eles correm em meio a elas, que os picam. Picados, queimam, são reduzidos a cinzas. E renascem logo em seguida, pois que o sofrimento há-de ser eterno.


Gosto disso. Acho que as vacas de Belo Monte, Craíbas, Estrela de Alagoas, Lagoa da Canoa, Limoeiro de Anadia, Traipu, Poço das Trincheiras, Jacaré dos Homens, ficariam bem sendo picadas por cobras. Eternamente.


Mas, pedidno data venia ao poeta florentino, gostaria de ver as primeiras-damas alagoanas padecendo do sofrimento destinado aos aduladores, qual seja, ficar mergulhado num mar de merda.


Cito a tradução de Cristiano Martins (Inferno, canto XVIII, 112-114):


"E fomos, pois: E vimos, pululante,
gente num mar de fezes mergulhada,
mar às cloacas terrenas semelhante."


Assim queria eu essas primeiras-damas: sempiternamente mergulhadas em fezes. E, claro, com seu copinho de whisky em mãos. Sensíveis que são, avessas ao whisky caubói, teriam elas direito às suas pedrinhas de gelo. Feitas, naturalmente, da substância que as cerca.

3 comments:

Mateus Maciel said...

Concordo com cada palavra.

Anonymous said...

Texto postado no FB.

Eriquinha said...

brilhante.