Saturday, May 30, 2009

Não sei se quero escrever sobre isso. Perguntam-me, quase sempre sinceramente, e tenho o...


Bem, neste exato momento já não quero mais. O post seria sobre a medicação, o tratamento do Dante mas acabei de descobrir que não quero escrever aqui sobre isso... Aos que perguntaram, mandarei respostas individuais, ainda que, neste caso, falar me seja imensamente menos doloroso que escrever.

Wednesday, May 27, 2009

Navegar em Nava



O Nava ficou pequenininho, perto do seu amado relógio da Glória, onde escolheu, aliás, despedir-se desta porca vida, como diria ele.

Como gosto de Pedro Nava, um dos meus escritores de todos os tempos. Foi no final de meu mestrado, 97-98, que pus tudo de lado para mergulhar, encharcar-me de Nava. Jamais me esquecerei das manhãs e tardes passadas no sofá da sala da Paulo Alves devorando Balão Cativo, Chão de Ferro, Baú de Ossos, Beira-Mar, Galo-das-Trevas e O Círio Perfeito. No fim deste, eu já estava tão obcecado que o sonhei em minha sala a dizer-me soturnamente: "EU SOU O COMENDADOR". Quem leu o "Círio" entenderá. Aí um dia peguei um ônibus e enfiei-me na Usina disposto a descobrir onde ficava o famoso "Bar das Rolas" e sua cascata. Descobri-o fechado, suspenso, intacto no ar.

Por que isso tudo? Uma amiga pediu-me uma epígrafe para sua dissertação sobre polidez. Quem trata de polidez, de palavrões fala. E lembrei-me que mestre Nava tem umas tiradas memoráveis sobre palavrões, dizendo que são o tempero da língua etc. Bem, vasculhei, escaniei dois volumes e nada descobri. Mas descobri isto daqui, que ora reproduzo. Ou seja, o homem que urrava sem pudor "FODAM-SE SUAS BESTAS!", era também de um lirismo extremo. Este o trecho, vejam como evoca o cummings citado logo abaixo:

"(...) feita como era daquele material perecível, precioso, frágil, sem compatibilidade com o da vida -- o material absurdo dos seus olhos, da sua pele, do seu corpo e sobretudo da seda miraculosa de seus cabelos raios de luz onda do mar." (Balão Cativo, p. 108)

Roubo, já modificando, essas linhas para o Dante: "o material absurdo dos seus olhos, da suas mãos".

Sunday, May 24, 2009

Má influência


A mãe, a vó (materna), a madrinha, todas muito caretinhas, acharão esta foto um mau caminho para o pequeno: o cabelo despenteado, a camisa pelo avesso (a vó supracitada tem horror a isso, acho que é TOC!), pero me gustan a luz que incide sobre minha camisa (do avesso), o patifinho em movimento, eu a sussurrar-lhe carícias, Fernando Pessoa às minhas costas ("Quanto do teu sal...?"), meus CDs ao fundo...
Para quem falar que elogio em boca própria é vitupério, ora, mas não fui eu que tirei a foto! =)

Friday, May 22, 2009

Este o poema lindo do e. e. cummings, meu companheiro de anos:

"somewhere i have never travelled, gladly beyond
any experience, your eyes have their silence:
in your most frail gesture are things which enclose me,
or which i cannot touch because they are too near

your slightest look easily will unclose me
though i have closed myself as fingers,
you open always petal by petal myself as Spring opens
(touching skillfully, mysteriously) her first rose

or if your wish be to close me, i and
my life will shut very beautifully, suddenly,
as when the heart of this flower imagines
the snow carefully everywhere descending;

nothing we are to perceive in this world equals
the power of your intense fragility: whose texture
compels me with the colour of its countries,
rendering death and forever with each breathing

(i do not know what it is about you that closes
and opens; only something in me understands
the voice of your eyes is deeper than all roses)
nobody, not even the rain, has such small hands"


E agora a tradução bela do Augusto de Campos.
O Zeca Baleiro musicou, ficou bonito também.

"nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além
de qualquer experiência, teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto

teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos, nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera abre
(tocando sutilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa

ou se quiseres me ver fechado, eu e
minha vida nos fecharemos belamente, de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;

nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua intensa fragilidade: cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira

(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre; só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem mãos tão pequenas"


E por quê isso?
Porque sempre achei que uma das chaves para se entender este poema belíssimo -- um poema de amor -- é percebê-lo como um poema para uma criança.

Este é o poema de amor que dedico ao Dante, such small and soft and tender hands.

Friday, May 15, 2009

Há mais de um mês não atualizo o blog.
Há exato um mês tivemos nossas vidas viradas pelo avesso.

Mas o blog vai continuar. Peço desculpas ao Dantuca por um mês sem posts.

O meu amor incondicional.