Tuesday, January 27, 2009

Das Trocas de Fraldas e Ajudas



A já terceira pediatra do Dante foi muito gentil e deu-nos um saquinho com amostras grátis de alguns remédios. Neste saquinho havia dois livretinhos, um sobre amamentação e outro sobre troca de fraldas. Este último começa assim: "Parabéns, mamãe!" E depois prossegue "Para ajudá-la nos momentos de higiene do seu bebê blablablá". Ou seja, pai não troca fralda! Esta pediatra, aliás, depois de examinar o mocinho pormenorizadamente, disse: "Senta aqui, mãe, para eu blablablá". E pôs-se a falar apenas com a Bia. Pai, creio, não se interessa mesmo, ou então só vai ao consultório pra fazer o trabalho sujo, chamar o táxi, segurar o guarda-chuva, trocar fralda, não, trocar fralda, não!
Como diria meu querido e para sempre orientador José Carlos, "é muito interessante". Passadas mais de duas décadas que o pai desceu para a pracinha com o carrinho, o discurso do recém-nascido é ainda todo ele dirigido às mulheres.

E quando perguntam "E / Mas o Evandro ajuda?" Ai, ai, sigh... Como assim, ajuda? Imaginemos que você esteja às voltas com uma tradução ou precise de uma revisão no seu texto... Aí eu vou lá e... ajudo. Sim, não era obrigação minha, ajudei porque quis. Aliás, não faz sentido exigir ajuda, faz? Exige-se obrigação. Mas, então, faz sentido perguntar se o pai... ajuda? Dá vontade de dizer: "Claro que não. Não faço mais que a obrigação." Peraí, obrigação? Mas essa palavra não tem um travo meio amargo? Então nem esta se encaixa. Procuremos outra, então, já que "ajuda" e "obrigação" foram descartadas. =)

Friday, January 23, 2009

A tartaruga, o navio e a Isolda




Ao saber que Dante estava para chegar, ou já sabendo que ele chegara, mais de uma pessoa inteligente franziu o cenho e perguntou: "E a Isolda?"
Esta é a diferença entre a tartaruga, o navio e a Isolducha. É que a tartaruga tem o casco virado pra cima e o navio tem o casco virado pra baixo.
E a Isolda?
Vai bem, obrigado.
Também nós estávamos curiosos para saber como a gata receberia o irmãozinho. Se uma bolinha de papel, imagine a menor bolinha de papel alumínio, já causa tanta correria, tanto excitação, o que não causaria um serzinho mexendo braços e pernas, qual um insetinho, chorando?
Pois bem, Dante chegou no domingo de manhã, dia 21 de dezembro, depois de passar duas noites no hospital. Isolda, naturalmente, veio receber-nos, como sempre faz. Em princípio, sequer notou o mocinho, levantou o rabo, arqueou a coluna, grunhiu seus miaus, jogou-se no chão, expôs sua barriga, lambeu as mãozinhas.
Foi só quando Dante começou a chorar, algumas horas depois, que ela percebeu que tinha alguém ali! E, tendo alguém diferente em casa, o que faz o gato? Esconde-se debaixo da cama, incontineti! E lá ela ficou, algumas horas. Depois, percebeu que o Dante não era como as outras visitas e saiu, foi cuidar de sua vida, pedir comida, visitar sua caixinha.
E a convivência tem sido ótima. Ela mal dá por ele. Muitas vezes, quando Lica amamenta, ela trepa na segunda prateleira da estante e fica pertinho, dormindo. Quando Dante chora, pedindo mais, ela dorme que só. Às vezes, levanta-se, ajeita a coluna, enovela-se e torna dormir. Só uma vez ou outra quis subir no carrinho, ficou de cheiros. No mais, é o dengo, a ternura, a poesia de sempre. Uma irmãzinha perfeita.

Thursday, January 22, 2009

Fotos chouffeanas

No hotel em Bruxelas com meus tesouros: a placa da La Chouffe e a caixa de CDs do Wim Mertens.

A capelinha de São José, onde pretendo batizar meu duendinho.


A cervejaria.




Em busca do duende Chouffe




Quando fundaram, por hobby, a cervejaria belga d’Achouffe em 1982, os cunhados Pierre Gobron e Christian Bauweraerts não tinham ambições além do entretenimento. Dois anos depois a coisa ficou mais séria, e Gobron decidiu abandonar seu emprego para se concentrar apenas na cervejaria, o mesmo fazendo Bauweraerts um pouco depois. Eles sabiam o que faziam. La Chouffe (8%), o carro-chefe da casa, é uma cerveja não-filtrada, turva, que passa por uma refermentação na garrafa e no barril. Bastante frutada e lupulada, é uma cerveja espetacular.



Antes de prosseguir: a cerveja se chama La Chouffe; a cervejaria, Brasserie d’Achouffe; a cidade, Achouffe, e o duende que deu origem a tudo se chama... Chouffe. O que veio primeiro? Naturalmente, o nome do malicioso anãozinho que, abundante nas florestas das Ardennes, emprestou o nome à pequenina vila. O nome da cerveja nada mais é que um trocadilho com o nome da vila. Entenderam? Achouffe! Saúde!



Não me lembrava quando ou como eu sucumbira aos feitiços do duende. Recorrendo a velhos diários, consigo localizar com precisão o dia em que tomei a cerveja pela vez primeira: 19 de julho de 1998, no Café Belgique, em Amsterdam. Depois de tomar uma La Trappe, pedi, aceitando sugestão do menu, uma das “Belgian favorites” e assim a descrevi: “fuzzy, strong, delicious”. Foi paixão ao primeiro gole. Paixão fortalecida nesta mesma viagem, quando segui para Bélgica, e cinco anos depois, quando, em Bruxelas, no Bier Circus, sem dúvida um dos meus bares mais queridos e onde quero que repouse ao menos um punhado das minhas cinzas, sempre terminava ou iniciava minhas descobertas por uma La Chouffe.



Mas foi só em 2005, na minha terceira visita à Bélgica, que encetei uma peregrinação à fábrica do duende. Visitar fábricas de cervejas que amamos é um dever como o que os muçulmanos têm em relação a Meca: pelo menos uma vez na vida, devemos ir lá, conhecer de perto, sentir o ambiente, aspirar os cheiros e, claro, beber da cerveja fresca, direto da teta.



Depois de um ótimo fim-de-semana com minha mulher em Luxemburgo, combinamos que, na segunda-feira, 17 de janeiro de 2005, ela voltaria para Paris, onde estava fazendo um curso, e eu seguiria só, em busca do gnomo. Não que minha mulher não goste de cerveja ou de visitar cervejarias, pelo contrário, já fomos juntos à Heineken, à Pilsner Urqvell, à Cantillon, à Duvel, à Guinness, à Carlsberg, dentre outras, mas algo me dizia que, desta vez, eu deveria mesmo é ir sozinho Acertei. Chegar, sem carro, à fábrica da La Chouffe, localizada nas florestas das Ardennes não foi nada fácil. Peguei trem para Gouvy, de onde esperava pegar um táxi até Achouffe. Chegando a Gouvy, descobri que não havia táxi para Achouffe, mas apenas para Houffalize. Descubro também que o frio é de 0 grau.



Pedi o táxi, para logo descobrir que este custaria 50 euros. Cancelo o táxi e pego ônibus até Houfallize. Salto no meio da estrada, literalmente no cruzamento. Vou andando e pego uma estrada vicinal. Com o nevoeiro intenso, só vejo uns 10 metros à minha frente num frio de rachar. Uma placa me indica: 4 quilômetros para o Vale das Fadas. É que esta região, então descubro, é conhecida por ser uma espécie de Visconde de Mauá belga, daí as fadas e os chouffes que, neste dia, não deram as caras, cochilando que ficaram no conforto de seus cogumelos. Fiz contas mentais para distrair-me, calculei quantos passos teria que dar para cobrir um quilômetro, mas me confundia sempre e recomeçava do zero. Mas nisso, ia andando e sempre pensando “Ufa, ainda bem que a Lica não veio...”. Chego a Mont – tudo muito rural, não há viv’alma. Nem vila ou aldeia é, apenas uma fazenda aqui, outra acolá. Uma vaca que pasce no frio pára e me examina atenta. Com certeza, há mais delas do que gente por aqui. Adiante, distingo dois cavalos na neblina, que também me examinam curiosos, o que mostra como deve ser raro gente andando por aqui. Dois carros passam, indiferentes ao meu polegar. Depois, porém, um terceiro pára. Mas eu já estava chegando! Já vira a cervejaria do alto, ó glória!



Quando chego à “cidade”, pouco antes do meio-dia, percebo que esta se limita à cervejaria e a uma capela de São José. Em Achouffe residem 65 almas, sendo 18 dedicadas ao fabrico da nobre bebida. Justo neste dia, uma segunda-feira, não havia visita guiada propriamente dita, mas eu já combinara com o guia, por telefone, que ele me mostraria algumas partes da cervejaria em off. Assim, quando chego, vou à loja e pergunto por ele, que estava no restaurante. Tão logo me identifico (“the guy from Brazil”), ele me aponta um senhor e pergunta, misturando inglês e francês: “Sabe quem é aquele lá?” À minha negativa, responde: “O criador da Hoeggarden...”. Ele, em pessoa, tomando calmamente sua La Chouffe. A emoção é grande. Depois de visitar a cervejaria, sento no restaurante e começo por uma La Chouffe, logo secundada pela McChouffe (a escura, também não-filtrada e com refermentação na garrafa). Depois, novidade para mim, peço uma N’Ice Chouffe, uma saison escura, especial de inverno, condimentada com tomilho e curaçao, que chega aos 10%. Tudo da torneirinha. Para petiscar, Patachouffe, o queijo que, naturalmente, também leva cerveja.



Pinto no lixo, escrevo no diário: “Devo me beliscar. E depois abrir os olhos. Estarei sonhando. Estou. La vida es sueño & this is a dream come true.”



Almoço um pintadeau (espécie de galinha-da-angola) feito com McChouffe, e arremato tudo com um cálice de Esprit d’Achouffe, um destilado de cerveja (“eau de vie”), envelhecido por cinco anos. Mal contendo a excitação, passo depois na loja, onde compro camisa, placa e ainda ganho alguns brindes (chaveiro e cartões). De quebra, o dono da loja me oferece uma carona a Gouvy, com direito a uma espiada no depósito em Houffalize.



Assim termina a visita. De Gouvy, trem para Liège e, então, para Bruxelas. Nesta noite, ainda dou um pulo no Mort Subite e no La Becasse. Mas isso já serão outras histórias.



Assim termina a visita, mas não termina o relato. Relendo anotações do que escrevi, em êxtase, no restaurante da cervejaria, encontro este trecho: “Mas sinto saudades daquela menina, apesar dos eventuais, e normais, arranca-rabos. Ontem até combinamos COMO NUNCA ter filho. Mas ela estava meio excitada pelo vinho, então prefiro falar disso depois... Mas é o que MAIS QUERO hoje... Uma Laurinha.”



Em 2005 iríamos completar 12 anos juntos e, como se percebe, não tínhamos ainda filhos. Este só veio agora, há pouco mais de 1 mês. Não uma Laurinha, mas o Dante. Quem sabe, então, não é hora de voltar à Achouffe para batizá-lo naquela igrejinha de São José (Dante nasceu dia 19...), em meio aos duendes das Ardennes? Hummm, ainda mais agora que descobri que a cervejaria pôs no mercado uma novidade: a Houblon Chouffe, uma IPA feita com três tipos de lúpulo... Até concordaria em, desta vez, pagar os 50 euros de táxi... Mas, para não ter que pagar a volta, quem sabe então os 65 habitantes de Achouffe não passam a ser 68?

Wednesday, January 21, 2009

Música para Crianças



Falar de "Palhaço" de Egberto me faz falar de música para crianças. Existe música para crianças? "Palhaço" é para crianças? Quando se fala neste "subgênero", invariavelmente se pensa em muito gritaria e apelação. 
Mas existe coisa muito boa por aí.

Listo agora o que julgo ser parte de um TOP 5 de "música para crianças", as aspas são estranhas, mas imprescindíveis. Fora da ordem:

1) Brincando de Roda - Solange Maria e Coral Infantil (o da ilustração)
2) Brincadeiras de Roda, Estórias e Canções de Ninar - Solange Maria (de novo) e... Antonio Nóbrega! Ainda tem historinhas narradas por... Elba Ramalho!
3) Cantigas de Roda - Coral Infantil de Montes Claros
4) De Novo Olá - com canções de Maria Mazzetti
5) Peter, Paul & Mommy - Peter, Paul & Mary

No próximo post comento por que amos estes discos,,,,,

Palhaço


Hoje realizei um sonho sem perceber. Quero dizer, percebi depois.

Lica deixou-me com ele. Ele tinha mamado muito, era a dura hora da eructação. Então, eructação, vamos lá! Só com música e/ou ar condicionado e/ou cadeira de balanço. Como estava na sala, só tinha a opção da música. Pus para tocar o Circense, do mestre Egberto Gismonti. Direto na quarta faixa, igual a cavalo de bêbado.
Pois... enfim, ouvi a música linda, linda mais que linda, "Palhaço", com meu filho nos braços. Eu, que sempre amei esta música...
Chorei a água de uns três cocos...

Friday, January 16, 2009

Dante goes to the concert hall!


Verdade que ele tem as delícias do peito, mas, tirante isso, o pobrecillo não vê muitas coisas e nem passeia muito ainda. Vai do carrinho no nosso quarto para a cadeira de balanço no escritório e, de lá, para... o carrinho no... escritório. Duas vezes por dia vai pro quartinho dele, mas só pra tomar banho. Nem fica na caminha dele ainda.



Mas domingo passado, desejoso de mudar isso, levei-o para a sala, para ouvir música. Era um daqueles raros momentos, nesta idade, em que ele nem queria mamar nem domir. Queria é examinar as coisas e dar umas cabeçadas. Pois bem, levei-o para sala naquela que é minha hora preferida: as cigarras escandiam suas sílabas no incêndio do crepúsculo. Possivelmente a Papa-Ceia já aparecera.

O que ouvíamos? Um CD que há muito eu não escutava, o "Great American Concertos", com peças do Barber, Copland e Gershwin. Embora eu goste dele todo, o meu xodó é o concerto de violino do Barber, que coisa linda.

Ouvimos nós dois o Allegro inicial, eu extasiado em reencontrar uma peça querida de que eu me afastara. Mas quando chegou o segundo movimento, claro, um Andante, um movimento triste, como é tradição nos concertos, eu não agüentei (tremas ainda existem pour moi, baby): aquele oboé que se destaca é lindo demais, pungente demais, eu sempre choro e desta vez não foi diferente... Pudera, o oboé, o Barber, as cigarras (noivas desesperadas) e o Dante... as lágrimas fluíam e eu nem precisava disfarçar porque Lica estava longe, esquentando águas para o banho... Mas qual não foi meu espanto quando percebi que Dante também chorava! Deuses, pensei, também ele se sensibiliza com o oboé no início do Concerto para Violino e Orquestra Opus 37 do Samuel Barber! Que menino sensível!

Mas não! É que sua chupeta tinha caído....

O Test Drive de Dante


Agora Dantuca já dorme um pouquinho mais. Mas nos primeiros dias essa história de dormir não era com ele -- o bichinho podia ficar acordado mais de 12 horas seguidas, só mamando e, ocasionalmente, dando uns cochilos no peito.

A Bia exauria-se e também eu.


Aí puxei-o para um lado e expliquei-lhe o que a enfermeira-chefe do Santa Martha, uma ruiva gorda que cheirava a algodão, me segredara. Que o Dante ficaria conosco por 1 mês. Exato - de 19 a 19. E que depois, se não quiséssemos continuar, poderíamos devolvê-lo ou trocá-lo. Expliquei isso tudo a ele. Ele ouviu muito sério, com a mão cerrada sobre a testa, gesto que amiúde assume quando quer fazer cocô, olhou para mim, olhou para a Isolda, olhou para os peitos da Bia e passou os olhos pelo escritório.


Desde esse dia, passou a dormir mais. Acho que ele escolheu ficar.



ps: Aos que acharem este post cruel: bobagem, é só mais uma expressão de amor pelo meu patifinho.

Tuesday, January 13, 2009

Quando dávamos a notícia de que Bia estava grávida, recebíamos, invariavelmente, muito carinho, muitas pessoas ficavam visivelmente emocionadas. Isso tocou-nos, a nós que já não pensávamos em ter filhos, a mim, descrente da espécie humana. Percebemos que éramos vistos como se tivéssemos recebido uma bênção, algo bem Indian style. E, sim!, em que pese minha ainda descrença na nossa espécie, em que pese tanta gravidez irresponsável por aí, foi e é e está sendo uma bênção.
E assim agradeço o carinho de todos, de alunos, colegas, familiares, amigos.

Mas também ouvi muita bobagem. Tipo:

1) Ah, filho faz a gente se tornar melhor....
(Putz, se tanta gente tem filho e o mundo é o que é, imagina se não tivessem tido!)

2) Outra bobagem: "Vocês aproveitaram bastante (Lica e eu estamos há 15 anos juntos), viajaram bastante (conhecemos cerca de 25 países juntos), agora, agora, está na hora de ter filhos... A vida vai mudar!"
(Peraí, então.... ter filhos é ... ruim? é chato? É isso que é a "verdadeira vida"? E enquanto não tínhamos {famigerados dinkos que éramos}, não estávamos vivendo de verdade? Impostores?)

3) Outra bobajada: ao me ver lendo, ou tomando uma cerveja, ou ouvindo música, dizia-se: "APROVEITA!"
(Outra no espírito do... "a vida vai mudar, e pelo visto pra pior!" Caramba, sério, não poderei mais ler? Nem degustar cervejas nem ouvir rock progressivo nem fazer amor nem sair com amigos??? Uma vez mais, a idéia da mudança, mas da mudança negativa... Eita, chega pra lá! Dante chegou pra mudar, sim, pra mudar muito, mas pra ser um plus.....)

Bem, só pra provar que um desses mitos tolos já caiu por terra ("Você nunca mais vai ler ou ouvir música!"): desde que nasceu meu patifinho, já li 5 romances.... Nada mal, hein? Mas isso já é assunto para outro post,,,,)

Sunday, January 11, 2009

Viagem Dante


Há um ano atrás estávamos, Lica e eu, em Goa. No ano retrasado, por esta época, estávamos a caminho de Goa, talvez na Escócia ou em Paris.


Este ano a viagem é diferente e começa em Dante, em seus olhos que já tateiam contatos e ternuras.


O blog voltou.